MATERNIDADE I
Homenagem à Ana Paula Barreto Lopasso.
Arranjo de Lázaro Barreto
Uma ávida semente germinando a corola,
as pétalas e as cores
e a vida
no silêncio do espaço no tempo,
como diria Inês Belém Barreto.
Ah, ouvir o silêncio da relva crescendo,
como diria Anna Akhmátova.
A poesia de repente soa calorosa e terna.
As vozes enchem o ar de silêncio,
como diria Ana Cristina César.
A felicidade por Deus apelidada de eternidade,
diria Emily Dickinson, que também diria:
“para fazer uma campina basta um trevo,
uma abelha e uma criança”.
O verso na poesia é o filho do matrimônio.
É a melhor opção da vida,
como diria Marianne Moore.
“Aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”,
assim disse Cecília Meireles.
O amor te põe pra funcionar, ó mãe,
e tua voz se aninha entre os elementos,
como diria Sylvia Platt, que acrescentaria:
“De noite sua respiração
vacila entre rosas lisas”.
“Vou te descobrindo – ou redescobrindo? –
atrás da fechada janela
na remota cidade que desconheço”.
Palavras de Olga Savary.
“Ela tem um encontro marcado
com os halos ao redor da lua”,
assim afirma Elizabeth Bishop.
“Eu que nunca vi a alegria de corpo e alma,
falo de amor e chego a um oásis singelo
onde o vento no campo
se verga do milho a espiga,
como lençóis ao ar livre”,
assim poetava Marly de Oliveira.
“Mãe, eu te agradeço e te bendigo
por me ter tido
e me haver dado o Amor”.
Afirma Célia Lamounier Araújo.
A mãe é o poema de todos os filhos, eu digo.
É a pousada do ser, como diria Henriqueta Lisboa:
“pelo embalo das ondas
pelo canto dos pássaros
pela polpa do fruto
no dia exato da maturescência”,
como acrescenta a Henriqueta Lisboa.
“Embora talvez te agrida,
nosso amor vai durar pouco.
Somente por toda vida”.
Palavras de Leila Miccolis.
“E do corpo em palavra criou-se”,
como diria Maria Esther Maciel,
“a fêmea escritura encarnada em verbo
e silêncio”.
“Nas águas do aquário a vida mudou.
Aquele peixinho pintou e bordou”.
Afirmação de Ieda Dias.
“Vi um bebê de meio palmo que respirava:
entendi que um copo d’água é suficiente
pra mim”, afirma Adriana Versiani.
“Com olhos de criança,
perceber o inusitado, o novo, o inexistente.
Recolocar ao mistério ao nosso alcance”.
Assim diz Lara de Lemos.
“Derramada em traços
a cor avança
à procura da luz
e da expressão”,
assim está escrito em “Exercícios de Viver”,
de Lélia Parreira Duarte.
“Líquida certeza
nestas veias navega:
também em mim
Deus respira” – é assim que bendiz a poeta Yeda Prates Bernis.
“Sou maior que o escuro
a corromper a luz, diuturna nostalgia de um sonho”,
assim está escrito num belo poema de Lélia Coelho Frota.
“Brilha para dentro de mim.
“Acende teus luzeiros em meus olhos.
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra”
- assim disse cantando Ana Hatherly.
“O momento presente é enriquecido pelo passado,
mas o passado também é enriquecido pelo presente”,
assim dizia em prosa Virginia Wolf, mergulhando na emoção de certos
Momentos de Vida.
“O recém-nascido vai precisar de faixas”,
como afirma Adélia Prado, que acrescenta:
“É um tal amor o que prepara os ungüentos
que obriga a divindade a conceder-se.
Até que esmaeçam,
velo as coruscantes estrelas”.
O certo é que a vida se banha, aquece e alimenta em sua circunstância.
A vida dentro da vida.
O mundo é belo
e a vida também –
assim posso dizer, repetindo meus bons votos à Mãe, ao Pai e ao Filho.
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