sábado, abril 02, 2011

DOIS, TRÊS POEMAS (REVISADOS)

1 – O Mineral País de Itabira. A boa chuva de versos semeando adeuses e caminhos. O poente em profundas manhãs. E todo o universo mineireiro das chapadas e alterosas da elegia continental cultivada aqui, ali, acolá, para remeter aos diversos brasis do Brasil. Ele, o longo homem sóbrio, canta ao ritmo torrencial das enxadas na roça de milho um choro em círculos de ecos naquele mineral país de Itabira - hoje alma da montanha derretida, que se faz rio imaginário em paráfrases intermináveis. E assim tudo se baralha: um diabo de escorpião no bolso intercepta minhas palavras e trocas as possíveis respostas dos ouvintes e leitores. 

 2 – Os Três Nomes do Gato (*). Dar nome aos gatos não é tarefa fútil nem fácil. Muitas vezes quando digo que o gato tem TRÊS NOMES DIFERENTES, as pessoas olham-me de novo, julgam-me biruta. Mas assim é, por mais que estranhem e gozem! Primeiro o nome corrente, de uso da família, que pode ser Poetinha, Alípio ou Conceição. Depois o escolhido de pessoas refinadas (extravagantes ou mesmo sóbrias), como Menelau, Polonaise ou Pixinguinha. E por último o nome mais íntimo e solitário, que ele mais necessita para manter seu orgulho e esticar os bigodes, enrodilhar-se na cadeira ou até mesmo pular o muro como num vôo - e que pode ser Diadorim, Caracóia ou Ana Lívia Plurabelle, nome que nenhum outro gato deste mundo ostenta. Mas além desses e acima de tudo e de todos há um nome especial a preferir e esse ninguém sabe ou saberá. É o nome que nenhuma pesquisa humana pode descobrir e que só o próprio gato sabe, mas que nunca revelará a ninguém. Assim, se ver um gato em profunda meditação, os olhos abertos mas cegos, as unhas em inocente repouso, a razão é sempre a mesma: a mente dele está ocupada na contemplação de seu profundo e inescrutável e singular NOME. 
 (*) Paráfrase de um poema de T.S.Eliot. 

3 – Lírios. Beleza é loucura. A confluência do périplo de Orfeu no espelho triangular das vozes líricas. Beleza é tragédia. A claridade excessiva é absoluta cegueira. E que deserto é a metafísica visual.