terça-feira, maio 17, 2011

MATERNIDADE II

Oferecido às mães de todos os tempos e lugares, especialmente - ou particularmente - às queridas Isolina (in memoriam), Inês, Ana Paula e Layla). 

Suspiros de expectativa. Suspiros de alivio. O mistério da vida refaz seus milagres. As noites insones. As dores sem nomes. As emoções enormes. Um céu turvado, uma terra esclarecida? A profundidade hospitaleira. A fecundidade sobremaneira generosa. As novas vidas do porvir? Algumas lágrimas no sorrir? O sol nasce em forma de lua? Mãe-mãe, quê poesia a sua?! É assim que se dá a luz. Bem haja, pois! ................................................................................... Auréolas espocam nas janelas. O que há de ser? O essencial é viver, já dizia Carlos Drummond de Andrade a respeito de tanta bondade da mãe-natureza. ....................................................................................... O olhar angelical encantado, encantador, da criança, nos primeiros meses de vida. O que é a Natureza? Agora é só Beleza. Os primeiros meses de vida revelam o inocente otimismo, a ensinar aos acólitos do pessimismo que viver é uma honra, uma graça. Se depois o bebê chora tantas vezes, não é o prognóstico dos revezes: é sua forma circunstancial de falar, de negligenciar, de afirmar que a vida é para ser vivida docemente. .................................................................. A criancinha ri e chora sem os prelúdios e os interlúdios das horas e dos lugares. O chorar é sua fala simbólica, é despido de lágrimas de dor e de rancor. É um palavreado ainda não sabido, acintosamente intuído. E logo desperta em si o riso embutido: uma claridade, uma espontaneidade, uma sinceridade. É sua íntima palavra afirmativa da áurea bendita que reamanhece, tão viva. ................................................................................. Nenhum anjo é mais puro nos prenúncios e nos alvores do espelho triangular das vozes líricas e anímicas, a refletir nos risos e olhares a inovação vitalícia dos infinitos dias seguintes, nos ângulos e retângulos que a paisagem oferece em termos de fascinação e ternura. Haja, pois, poesia e encanto nos cantos e recantos dos risos e olhares radiosos, constantemente amanhecendo. .......................................................................................... Assim como a flor da noite fecha suas pétalas para dormir e reabre-as de manhã para o lúcido reviver, o recém-nascido perfuma e festeja a casa e o dia sorrindo ou chorando (que é sua forma zangada de sorrir). Também hoje em dia (17 de maio de 2011), a rolinha fica no ninho da jabuticabeira do quintal, dias e noites, noites e dias, sob o sol chuviscado e a chuva filtrada, sob os ventos e as brisas ocasionais... Sempre lá, os olhos abertos e espertos, sempre lá, doando seu calor. Inamovível (indefesa mas alerta e orgulhosa da ninhada que depois abrilhantará a cantoria no quintal). Inamovível, sem comer, sem beber. Só olhando e sentindo. Chocando, chocando... Mãe abençoada. Glória ao Espírito Santo da Natureza.