A ÁRVORE DOS SONHOS (*)
Um dia a árvore dos sonhos inopinados Desabou na cabeça de GTO, Que rachou para vazar O ouro das dívidas e das imaginações: a dança dos ícones nas gravuras parietais, a agoniada prateleira dos ex-votos, o balaio das miniaturas e das ampliações, a escalação dos totens, manipansos e penitentes, a montanha devocional das tribos indígenas, as efígies serôdias de Assubarnipal e de Araribóia, os perfis enfiados dos heróis da história-pátria, os ritos de passagem dos velhos arraiais, a acrobática peleja grupal dos roceiros. As entidades espirituais escorregam de suas mãos em sombria, quase opaca luz dos transes que animam os traços e relevos da matéria-prima. Assim, da fratura dos troncos avermelhados saltam os guerreiros corporais nas rodas e labirintos, as etnias as classes as mandalas os orobolos, os símbolos imemoriais de nossa caminhada. E assim ele tenta regressar à pureza Que o quer, mais adiante. Noutro dia os galhos da árvore atávica brotam em suas mãos primitivas e criadoras. Assim ele pode sacudir a sina – e para não endoidecer nas horas traumáticas do dia-a-dia, ele expulsa os demônios do corpo: é assim que mergulha na pureza para saber que não existe erro na face da terra, diuturnamente iluminada na renovação da realidade.
(*) - Poema (agora revisto) publicado no Suplemento Literário do jornal “Minas Gerais” em 02\06\1973. dá título e faz abertura de um documentário de Carlos Augusto Calil e
Lauro Escorel Filho, de 1978, sobre a obra do escultor GTO (Geraldo Teles de Oliveira).
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