MEL E VENENO
Fragmentos. 1994.
1 – O Sono exangue
Raramente perco o sono por causa da fome
dos deserdados e da indigestão dos poderosos.
Raramente perco o sono porque sendo um dos
deserdados, só vou para a cama depois de muito
pelejar contra os ímpios e seus escusos negócios
- já quase morto de canseira e de sono.
2 – As Águas, As Águas
Enquanto me alimento da visão
de teus seios dentro da roupa,
desnudos sob a roupa,
a noite pode despedaçar-se na montanha
e tudo acontecer fora de mim.
A umidade quente dos lábios
a labareda clitórica da língua
a seda da nuca, a perola do pescoço
os seios desnudos sob a roupa.
O brilho-oásis d umbigo, o reino encantado
do púbis da vulva da vagina
a cópula de setecentos orgasmos:
quem me dera outra tarde igual!
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