domingo, fevereiro 19, 2006

MEMORIAL DO DESTERRO

Fragmento, 1995.

Deus Seja Louvado (página 45). Ao par da doutrina e dos cultos sagrados, o povo elabora e pratica correções e acréscimos apócrifos, relativizando e adaptando dogmas e cânones às novas realidades e sonhos das pessoas que vivem a cultura do tempo e do lugar. Os ritos transbordam da eucaristia para a sacristia e dali para os altares ao ar livre, que são os cruzeiros das praças e das lajes de toda parte. A vida é mais ampla do que qualquer doutrina – e o homem do povo tem sempre uma saída em seus embaraços teológicos, respeitando os conceitos mais claros, interpretando a seu modo os mais obscuros e tirando o chapéu para os mistérios da divindade. “Ajuda-te que Deus te ajudará!”, é mais um dos mandamentos da lei de Deus, dito e repetido por todo mundo, como se saltasse da tábua de Moisés. Seus apelos de transcendência, sua carga mística (ora leve, ora pesada), sua pregação salvacionista, tudo isso visa adaptar o homem ao universo, espiritualizando as concreções, contextualizando as configurações. Das tradições de grupos nascem os consensos sociais. A religião é uma rede com seus buracos onde entram e saem outras indicações e outros rumos: somos todos filhos de Deus, mas cada um tem o deus que imagina e no qual acredita. O individuo se vale da religião para mitigar os temores, ansiedades e frustrações; a sociedade se vale dela para manter e fortalecer os laços favoráveis à estabilidade conjuntural. O homem tem muitas noções sobre Deus, como observa Jung. Quando está triste e dependente, Deus é pai; quando se sente desamado, Deus é amor. Goldenweiser mostra que o elemento comum à magia e à religião é a aceitação do sobrenatural com todo o fervor da crendice. A aura de religiosidade não se ausenta do lugar onde uma ou mais pessoas estejam (no mato, na rua) – e o esforço para sacralizar o próprio ser humano começa na dádiva do nome de cada pessoa, quase sempre invocando e homenageando um santo ou um anjo. Aos meninos, a dádiva do primeiro nome; às meninas, além do nome, os sobrenomes: as Tereza Cândida de Jesus, as Maria da Conceição, as Rita do Espírito Santo etc, enchem as páginas dos batistérios da paróquia de Nossa Senhora do Desterro. Em 13/04/1932 batizou-se o filho de Laurindo e Cândida, com o nome de Espera em Deus Cândido dos Santos (lembro-me dele, na infância, atendendo pela alcunha de Esperim. A família depois mudou para Betim e nunca mais deu notícias.

1 Comments:

Blogger Ana Paula said...

Olá,
Li seu livro Memorial do Desterro e adorei. Além do mais, fala da história da minha família tb. Meu nome é Ana Paula Tavaris (na verdade Tavares, mas por erro de cartório ficou com "i"). Meu pai, Angelo de Magalhães Tavaris, nasceu em Marilândia. E foi criado em Divinópolis onde hoje ainda reside minha tia (Marina Magalhães Nunes) e diversos primos. Eu, meus pais e meus irmãos moramos em São Paulo.
Meus avós paternos são Joaquim José Tavares e Ana de Magalhães Tavares). Adoro saber sobre a história da minha família e o lugar de onde vieram. Já passei duas vezes por Marilândia estando a caminho de Divinópolis. É um lugar adorável que gostaria de conhecer melhor, afinal parte da minha origem está lá.
Admiro seu trabalho e, se tiver mais informações sobre meus antepassados adoraria saber.

Um abraço,

Ana Paula
Meu e-mail: aptavaris@yahoo.com.br

1:47 AM  

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