A Imprensa de Divinópolis
A IMPRENSA DE DIVINÓPOLIS - Lázaro Barreto
à Marilda Mendes da Silva
Homens teimosos, de palavra fácil, arremessam dardos,
plantam jornais no chão às vezes sáfaro, às vezes fértil
da cidade que se alonga nos horizontes sertanejos.
Nomes satíricos e falazes (A Sogra, A Gazeta Sanitária),
bolados certamente por filhos mórbidos da vida custosa,
que sabem do amargo salutar de toda face humana.
Nomes líricos e verazes (Diadorim, Agora), recolhidos
das mais rudes invernadas regionais, procuram quem
está na berlinda, quem se esconde na barbaridade?
Eles brilham no escuro, escurecem na claridade.
Sabem que a floração dos escaninhos do poder
influi na tremedeira do medo alvejado.
Cônscios de seus objetivos, muitos carregam
os nomes de Sentinela, A Prova, O Clarão,
esculpidos nas dobras de uma bandeira
hasteada aos ventos contraditórios das desigualdades.
Todos cumprem seu destino, adubam os campos
enchem de perguntas os terrenos baldios.
Outros nomes portadores de tímidas epopéias
(Bilhete Azul, Arrebol, Carcará, Aqui Pra Nós)
colecionam incertezas, desafetos, penalidades;
mesmo assim aos trancos e barrancos
escrutinam os fazeres e as omissões cotidianas.
Às vezes procuram a flor e encontram a ferida.
Tecem comentários enrubescidos, pisam na bola.
Às vezes conseguem interceptar o malfeitor,
às vezes legitimam as irregularidades dos mandatários.
Assim conseguem tirar do atoleiro suas edições
empenhadas nas subtrações da rentabilidade.
Mesmo assim: aprovando, reprovando, provando
o letal gosto da vida moribunda, cansados
de dar tiros de canhão em tico-tico
(mesmo ostentando agora os conciliadores
nomes de Recreio, Variante, Filhote), eles
acertam em cheio a mutreta dos cabeções
(isso antes de redigir os próprios epitáfios,
antes de mudar seus ramos de negócios).
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