segunda-feira, maio 15, 2006

FREUD EXPLICA MESMO

Sob a ótica do Estado os indivíduos são diferentes uns dos outros, uns mais anormais, outros menos, e nisso a psicanálise tem que se virar, para ser maciamente exercida. A vida de Freud, trabalhosa, sofrida, produtiva, rendeu cerca de 23 volumes sólidos e férteis, além de centenas de livros e dezenas de biografias de outros autores sobre sua obra terapêutica e polêmica, eivada de clarões sob e sobre a fumaceira comportamental das pessoas, a lançar entreos escolhos da barbárie e da civilização seu discernimento repudiado pela classe dirigente ordinária e arbitrária (totalitarismos nazista, comunista e islâmico). Sua “cura pela palavra” rendeu-lhe, como disse Elizabeth Roudinesco,muitos conflitos e excomunhões – mas impávida a psicanálise acumula muitos cetros e argumentos. Suas quatro irmãs foram engolidas pelas trevas da nazista “solução final”,deixando no ar aduvidade uma cruel retaliação à imensa repercussão do trabalho dele), ao estudar e explicar as deformações da “normalidade”. Sua esposa Martha, que lia Dickens e Cervantes, nunca interrompeu nele o fluxo estudioso dessas deformações nos seres humanos criados e jogados na ambigüidade, na dualidade de um destino incerto e mimético. Ela era a Dona da Casa, soberana e pacata ao mesmo tempo, a cuidar de tudo zelosa e genericamente, benéfica e beneficiada, aprendiz e mestra do esposo. A mácula judaica esfregava suas costas, oprimia seu peito... A lembrança do pai cedendo o lugar na calçada a um ariano..., doía em suas pernas, empurrava seus braços, transtornava-lhe o sono... Sem o problema não há o emblema: as ondas me abalam mas não me afundam, ele dizia ao amigo Wilhelm... Foi assim que conheceu a rejeição e o acolhimento: de um lado o saltério e o mosaico da purgação e da imolação, do outro o gogó e a suástica da invasão e da imolação. Mas graças a ele Eros foi novamente endeusado, o sexo novamente abençoado... Assim ele tinha que enviesar as direções em toda hora, sacudir a árvore dos frutos então ainda verdes... foi assim que depois de esvaziar a hipótese, ele tateou no escuro e na bruma até sentir-se bafejado na claridade da nascitura psicanálise... e foi aí que ouviu de Martha a desculpa de que era uma pessoa honesta: “não tenho esse tal de inconsciente”... Muito bem, ele responde: todas as pessoas têm crises de angústias sem causas aparentes... As verdades são muitas e correm como lagartos. O sexo e o sonho,os dois pólos do dia-a-dia: antes de ser sonho, tudo é sexualidade: há sempre uma ponte a ligar duas almas, sempre uma ponte pênsil, um pênis... era assim que ele escoimava de prontidão as arengas do anti-semitismo,as contendas as confessadas neuroses de origem sexual das pacientes Cecily, Dora, Mathilde, Magda...: afinal o desnudamento da alma é que veste e reveste e embeleza o corpo? É ou não é? É! Os mitos gregos e bíblicos esclarecem os comportamentos ainda hoje? O sonho é mesmo a imagem de um desejo? É, ele garante, o sonho é o desejo profundo que vem à tona, que exercita os pequenos flertes, as grandes paixões... Então a castidade é mesmo uma tara, como diz o nosso Nelson Rodrigues? Ah Freud, se não foi feliz, somos felizes por ele! Sabemos que ele folgou muito mesmo nas dissenções com os amigos Fliess, Breuer, Characot, Adler e Jung, mas sabemos também que ele não agüentaria nem de longe ver a mácula hebraica levada ao forno crematório do holocausto ainda hoje a arrepiar as vísceras do corpo e do alma.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Prezado Lázaro,
Apreciei muito sua poética consideração sobre o "Singular" Sigmund Schlomo Freud. Oportunamente podemos tecer outras e novas configurações sobre este tema já que estamos na mesma cidade.
Atenciosamente,
Cláudia Leite.

1:09 AM  

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