quinta-feira, maio 25, 2006

A PROFISSÃO DE FÉ (*)

O trabalho intelectual atrela-se à dupla preocupação: a ciência da pesquisa e a literatura da expressão. Mas esse é um dilema no meio do caminho. O que importa é a vida que está em nós e o mundo no qual estamos. No meu caso o que mais importa é traduzir as experiências da vida vivida e da vida sonhada em formas de expressão – e para isso tenho que manejar as ferramentas do meu alcance: as palavras em blocos de contos, romances, poemas, peças teatrais, crônicas, artigos, aforismos, tudo nas modalidades narrativas do verso e da prosa.. Cada autor tem seu engenho e sua arte. Primeiro arma-se o cenário e depois retoma o tempo. Aí então entra o esforço da reconstituição aliado ao da criatividade. Para falar da infância num arraial escrevi um romance, uma coletânea de aquarelas, uma novela dialogada e um drama teatral: mais de mil páginas. E não esgotei o assunto, apenas entrei nele. Depois, para revelar a adolescência e a juventude, escrevi mais três livros: um romance ambientado metade em Belo Horizonte e metade em Uberaba, lugares que vivi na década de 50; e outro romance ambientado num acampamento de obras de construção de uma usina hidrelétrica, na mesma época; e um terceiro romance, novamente aproveitando Belo Horizonte como cenário, agora já na década de 60. E depois de mais dois romances, dezenas de contos e poemas e de mais algumas peças teatrais (tudo ainda inédito), estou agora reunindo os dados para escrever o romance ambientado na nossa bela e querida Divinópolis, que provavelmente terá o nome de “O Pião Entrou na Roda”. O curso de Ciências Sociais abriu-me as portas da pesquisa e entrei justamente no caminho pouco trilhado das Histórias Municipais de Minas. Já escrevi e publiquei as de Divinópolis, Arcos e Desterro, e mantenho inédito o livro sobre a Cultura Popular dos Municípios de Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina. E no momento estou pesquisando a genealogia das principais famílias que participaram da fundação e do desenvolvimento da região centro-oeste de Minas. Os dois trabalhos (o literário e o da pesquisa) são diferentes, mas têm algumas semelhanças, uma vez que ambos referem-se à vida e ao mundo, aos tempos e aos lugares. E se a literatura é um sonho e uma realidade, a história é uma fonte e um estuário: é dela que muitos autores colhem os melhores dados de sua obra literária que depois fará parte da própria história da civilização. 

(*) Texto publicado no “Jornal do Poste” (Divinópolis/MG, em 2001).