sexta-feira, maio 26, 2006

SEXUALIDADE E SENSUALIDADE

Amor-amizade, paixão-ódio, dualidades aproximativas, uma edificando o relacionamento mais cristalizado e duradouro, a outra o mais explosivo e peremptório. Sexualidade e sensualidade, dualidade distanciativa, uma das partes incorporando a linguagem do naturalismo, de coito simplório e até violento na escuridão ou na claridade, rápido e rasteiro, quase que como um estupro. A outra qualificação (a sensualidade) incorporando mais o idioma da libido comedida, silente e perspicaz nas tateações , e aí o coito não tem mais esse nome feioso, mas o de cópula, enlace dos sentidos na conjugação dos verbos compartilhados, numa quase demonstração de um esbanjado, transbordante onanismo. A sensualidade, sim, é a eleita do prazer pressentido e escolhido sob as auras e entretons dos íntimos segredos do desejo afortunado de um dueto de estrépitos suspirosos, de gritos melodiosos, de vistosas abstrações, da encarnada fusão de duas almas num corpo que participa realmente de outro corpo. Sexualidade: Sade, Céline, Lawrence, Jorge Amado; sensualidade: Proust, Thomas Mann, Drummond, Guimarães Rosa. A felicidade do enlace sexual não é algo que se pede ou que se possa exigir, é algo que as partes fazem por merecer. O erotismo admite até mesmo a pornografia, mas nunca o baixo calão e a escatologia. É com jeito que consegue ir ao deleite e lá ficar horas e horas no bem-bom de uma gozação que lava a alma.Mas ninguém deve ser devasso na vida nem assediador. Meio sedutor ainda bem, um amador da sensualidade livre e espontânea a participar de um interlúdio de maratonas, uma fantasia amenizando o realismo da vida urgente e cotidiana. Isto sim. A sensualidade que está no ar e na natureza, na doçura do sentir e do pensar, um tesão sem ofensa, uma sexualidade mais erótica, a pornografia na hora certa, a transa mais demorada para o orgasmo interminável, o culto a Eros de fio a pavio, dos pés à cabeça. Tudo numa boa (como se diz) cheia de reticências, sem ponto final ou de interrogação, sem cobrança posterior, mas com os beijos das recíprocas gratidão e comunhão. Os dois pontos para a reticência de uma infindável, gratificante composição literária em prosa poética.