sábado, junho 17, 2006

OS BEIJOS CARINHOSOS DE IDA LUPINO

Se ela mandou-me beijos carinhosos nos filmes é sinal de que uma partícula de seu organismo psico-físico (um suspiro medular do corpo ou da alma) lembrou-se de mim, favoravelmente, num dos intervalos cenográficos? Uma partícula biológica (do coração, do fígado), embebida de certa aragem libidinal, aqueceu-lhe a boca e o pensamento, para dizer que ao menos naquele momento, ela, como um todo, me amava? O que será que sua intimidade viu em mim numa determinada hora do dia ou da noite, nos intervalos das filmagens interiores? Quem sou para merecer em dado momento tal olhar de ternura tal beijo carinhoso, da luz benfazeja de uma estrela? Um beijo assim carinhoso: que seja ao mesmo tempo o encontro de desejos na fusão de um prazer que será eterno, mesmo que seja assim repentinamente no escurinho do cinema! Mesmo de longe fico a murmurar que amo essa mínima parte de um de seus joelhos ou cotovelos ou essa umidade de tanta ênfase, essa sensualidade ao vivo e a cores, esse amor platônico que suspira e aspira aproximar, não obstante a distância separadora de tempo e de lugar.