sábado, junho 10, 2006

MEU BEM CHEGA HOJE 2 (*)

Meu bem chega hoje

 

As palavras bloqueiam a passagem do pensamento

Quando, tangendo a fauna do passado,

Tento abrir uma vereda

Para passar com o meu poema.

 

Quero dizer que o teu corpo

É a paisagem em que me debruço,

Para conhecer os rios e as montanhas

Que me chamam para ocupar o lugar do meu desatino.

 

Jogo as palavras para o alto,

Como se fossem pássaros engaiolados,

Que se vão de mim, para longe.

O poema me escapa das mãos

Com ele a sombra e a luz do por do sol.

Que vêm de longe, para mim.

 

Toda a montagem de vocábulos

Se estatela, quando teu corpo

Se me aproxima, cheio de alma.

Aí é que o silêncio fala mais alto.


(*) Versão revista do poema publicado originalmente no livro Mel e Veneno, em 1984.