CLARICE E MURILO
1 – Clarice Lispector (de “A Hora da Estrela””).
- Ela (Macabeia) sabia o que era o desejo – embora não soubesse que sabia. Era assim: ficava faminta mas não de comida, era um gosto mais doloroso que subia do baixo ventre e arrepiava o bico dos seios e os braços vazios sem abraços.
- Eu vou ter tanta saudade de mim, quando morrer!
- Glória possuía no sangue um bom vinho português e também era amaneirada no bamboleio do caminhar por causa do sangue africano escondido.
- Sabia agora perguntar-se: morar sozinho para chorar à vontade ou viver numa casa cheia de gente e evitar o choro?
- Conheceria ela algum dia do amor o seu adeus? Conheceria algum dia do amor os seus desmaios? Teria a seu modo o doce vôo?
- Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto.
- Até no capim vagabundo há desejo de sol.
- Ela morreu assim que pôde.
- Olhava as vitrines só para se mortificar um pouco. Precisava encontrar-se – e sofrer um pouco é um encontro.
- Que eu nunca descreva o lázaro senão eu me cobriria de lepra.
- No céu dos oblíquos só entra quem é torto.
- O único animal que não cruza com o filho é o cavalo.
- Na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema.
- Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe.
- Uma jovem mulher cheia do próprio destino.
2 – Murilo Mendes (de “Os Discípulos de Emaús”).
- A idéia de Deus abandonado por Deus deve ser um dos raros e grandes consolos do Homem.
- Os pássaros sentem-se bem no ar, os peixes sentem-se bem na água: os homens não se sentem bem na terra.
- Poucos homens atingem sua época.
- A vida separa muito mais do que a morte.
- Se o homem está dividido dentro de si mesmo, como não o estará ante uma mulher?
- As montanhas apresentam uma forte relação com o peito original, com a curva do ventre feminino; e desperta a nostalgia das Colinas Eternas.
- O humano em Cristo é divino no homem.
- O amor é uma comunicação de bens; por isso ele é anti-capitalista; por isso é caridade.
- No poeta existe uma comunicação de todos com cada um, e de cada um com todos.
- O comunismo é revolucionário diante do capitalismo, e conservador diante do cristianismo.
- A liberdade é o equilíbrio entre o bem e o mal.
- A natureza muda sem sair do lugar.
- O maior poder de invenção e construção existe primeiro na natureza.
- A vulgaridade ao alcance de todos – eis a fórmula da civilização norte-americana.
- Este mundo é tão misterioso, que muitas vezes a inércia pode será fecunda,
e a atividade pode ser estéril.
- O verdadeiro poeta é conjuntamente um ser de circunstância, e eterno.
- O olhar do poeta é vastíssimo: só ele percebe os inumeráveis crimes contra a poesia.
- É muito significativo que o Cristo ressuscitado tenha aparecido primeiramente a uma mulher, e num jardim: restaurou Eva na sua primitiva dignidade.
- O cristianismo é desmesurado dentro do equilíbrio.
A carolice pode causar à religião maiores estragos do que o próprio ateísmo.
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