O JORNAL DEZFACES
Os três primeiros números ( de novembro e dezembro de 2006) do jornal DEZFACES - nome inspirado no “Poema das Sete Faces”, de Drummond, que a bem dizer inaugura o movimento literário modernista em Belo Horizonte de 1930 (abrindo o livro de estréia dele, ALGUMA POESIA, que é uma espécie de catálogo de irreverências formais de “desconstrução” da maneira acadêmica de escrever, e de “construção” da maneira mais contextual de escrever e viver a poesia nos novos tempos).
O plano de seus mentores e ativistas é a publicação de dez números até julho deste ano, através do financiamento da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, edições a cargo de núcleos/grupos editoriais (cada um responsabilizando editorialmente por cada número). Uma inovação editorial, como se vê, curiosa e interessante. Se a moda pegar, será ótimo na difusão da literatura e na pré-ocupação dos novos autores, que assim encontrarão a motivação e o aperfeiçoamento no próprio “fazer” da obra, sentindo de dentro a dor e o prazer da criatividade individual, com os respaldos e junções grupais de gerações até então sem veículos para se movimentarem livremente.
Bem atraente as capas com os nomes dos participantes em ordem alfabética, encarreirados verticalmente. É com prazer que transcrevo a nomeação, seguida , quando possível, de uma sintética citação: Adriana Versiani (“o que ama diz mais quando escreve e o que odeia silencia mais do que diz”); Ana Caetano (“e, se agora é assim... a poesia é a textura do deserto da palavra eu”); Ana Paula Pinto Alves Conde (“as ervas crescem ligeiras/ e o jardim em breve um pasto será”); Álvaro Andrade Garcia (“a terra de desterro e chacina”); Camilo Lara (“o ruído será sempre/ o ruído de sempre”); Carlos Augusto Novais (“onze lugares para se esconder...nos paraísos das redundâncias”); Emilia Mendes (“mestres que venerava me traíram”); Flávio Boaventura (“Razão Ardente de Appollinaire me foge a calma me foge”); Luciana Tonelli (“pela lucidez de enxergar onde é gestada a morte”); Marcelo Dolabela (“tenho uma amiga cujas ações parecem inspirações irresistíveis”); Osvaldo André de Mello (“A Camélia adormece na memória de sua espécie”); Rogério Barbosa da Silva (“as revoltas empreendidas pela poesia na modernidade se fazem principalmente através da recusa a desempenhar um papel determinado na cultura, por isso nega, ironicamente, o seu próprio discurso”); Vera Casa Nova (“intermídia, intermeio, intersuporte nessa trama, desses tecidos poéticos intravenosos”); Wagner Moreira (“a passagem em vez de passo/a viagem em vez de viajante”); Ana Silva Ribeiro (“Não mais leitores de incunábulos caríssimos, mas apreciadores do texto ágil e portátil, lido em silêncio”); André Laje (“Mallarmé via nas danças de Loie Fuller uma forma teatral de poesia,...incorporação visual da idéia, ...poema liberado do aparelho do escriba”); Carlos Lopes (“há muitos desbundes na história/ de tantas nádegas – par a par – dentro da alcova cúmplice”); Marcela Alvarenga (“Sinto dentro do mundo/ o engatinhar dos homens mortos”); Mário Alex Rosa (“Cego de mim/ leio seu corpo em braille”); Dieter Roos (Desculpem passarinhos/ não sei cantar/ desculpem”); e outros por mim julgados impinçaveis pela natureza não discursiva de seus textos, não querendo assim afirmar que não estejam perfeitamente contextualizados na linha editorial de DEZFACES: Carlos Falci, Eder Santos, Eduardo de Jesus, Gobira, João Castilho, Julio Pinto, Lucia Rosas, Marcus Vinicius A. Nascimento, Teodoro Rennó, Wallaci Armani, Rodrigo Minelli, Clarisse Alcântara, Imaculada Kangussu, Ronald Polito, Marcelo Baiotto, Marcus Vinicius de Freitas, Eugênio Macedo, Wilmar Silva, Glória Campos, Adriano Menezes, Bernardo Amorim, José Aloise Bahia, Jovino Machado, Ramon Maia, Tábata Morelo, Marcelo Kaiser.
Inveterado leitor de periódicos mineiros dedicados às belas letras, constato que é a primeira vez que se faz uma reunião tão numerosa de talentos, em torno de um veículo de expressão unanemimente almejado para coadunar as tendências explícitas e latentes de uma juventude em fase de escolha, de procura, de ansiedade, de transbordamento. Belo Horizonte já foi palco de outros surtos e ressurtos de gerações assim manobrando outros veículos que marcaram época (lembro-me no momento das coleções de plaquetas, dos tablóides e revistas nomeadas de Complemento, Edifício, Vocação, Tendência, SL do Minas) – e agora acolhe essa plêiade de novos talentos, na esperança, certamente, de poder festejar, as belas obras do mesmo nível qualitativo das de Drummond, Emilio Moura, Dantas Mota, Oscar Mendes, Murilo Rubião, Cyro dos Anjos, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Francisco Iglesias, Wander Pirolli, Henriqueta Lisboa, Lacyr Schetino, e outros componentes de grupos igualmente irmanados do mesmo élan vital diante dos desafios estéticos e éticos da indefinida e infinita veracidade humanística. Tenho certeza que nenhum apagão infestará os quadrantes e círculos destes belos, ensolarados e seculares horizontes renovados diariamente pelas brisas da clarividência e da cordialidade.
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