NATIVIDADE (*)
Vi hoje um movimento do corpo Que era da alma. Vi Deus no cocho das cabras e bezerros, Com os olhos de quem ama. Com os olhos de quem ama vejo Os homens próximos dos homens. Milhões de estrelas do céu e do mar São milhões de sinos, vibrando. Quem vela o sono das palavras Que sonham, para publicá-las, nascidas de novo: sem essa pessoa O vermelho não existiria tão puro. Quem ama os detalhes do inverno, Como a infiltração por entre os vegetais De um nítido raio de sol sustenido, Quem recolhe os bemóis da cachoeira, As decantações de perolas e peixes: Esse (o ser humano que deveríamos ser), tem lúcida voz própria, que anuncia: “Silêncio que aí vem Deus!”
(*) Transcrito do livro”Mel e Veneno”, edição do autor, em 1984, Divinópolis, MG.
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