terça-feira, dezembro 26, 2006

AS MÚLTIPLAS FACES DA VANGUARDA

A poesia não está morta e nunca estará, pois ninguém conseguirá matá-la, apesar dos bombardeios, tufões, idiossincrasias, quadrilhas de contraventores, escândalos de corrupção (já institucionalizada?) e os seriados homicidas tão sangrentos. Notória fênix dos séculos, a poesia renasce dos destroços, dos constrangimentos, e continua cintilando aqui e ali nas múltiplas faces da Natureza e da Humanidade, constantemente atacadas e até hoje não inteiramente vencidas. Por mais que os dentes da hipocrisia e da crueldade rangem de horizonte a horizonte, sempre-sempre as auroras despontam maciamente nos círculos e quadrantes com os versos, as estrofes, os poemas da contemporização, da réplica e da afirmação. A prova no momento está bem aí na espoucante, pesuasiva juventude mineireira das moças e rapazes do recém-lançado (em três simultâneas edições!) tablóide DEZFACES, através do qual eles afirmam e provam que a Vanguarda (na arte e na cultura) é um fenômeno eternamente procriativo, que só mesmo a ousadia da hediondíssima desintegração do átomo em escala mundial poderá interromper, o que (vade retro satanás) jamais acontecerá, é claro. É próprio de toda manipulação vanguardista a componência hermética, que às vezes assusta e desagrada as pessoas comuns e os cultores empedernidos do conservadorismo árido e insolente. Essas pessoas, atacadas repentinamente de obtusa miopia, não se dão conta da necessidade do autor de vanguarda ser fiel a uma certa (óbvia, exaustiva e expansiva) obscuridade que ao mesmo tempo escurece e clareia as coisas e as vidas deste mundo. E o que geralmente acontece é que muitas vezes o intelectual que pensa que está sendo claro em sua manifestação, está é postergando a elucidação dos eternos enigmas e vacilações das coisas e das pessoas. E a clareza transparente vale pouco mais que nada. É preferível tratar obscuramente a obscuridade e assim penetrar furtivamente em seus escaninhos do que rodeiar, passar por alto ou por baixo, desestimulando o gosto das sempre renovadas incursões. Porque, como sabemos, atrás e na frente de serra tem sempre serra para subir, descer, pesquisar novas tonalidades nas superfícies e profundidades. É algo que não tem fim – e só mesmo a arte de vanguarda é que estimula as aproximações dos neófitos às paisagens naturais e humanas, onde não pára de vicejar a superposição dos elementos que dinamizam o interesse da pesquisa e do usofruto da Verdade e da Beleza, valores que unificam e multiplicam a convivência dos seres vivos que configuram a unicidade e a multiplicidade da Vida e do Mundo.