segunda-feira, julho 09, 2007

AQUECIMENTO GLOBAL

Diante da inclemência do baixo índice pluviométrico (às oito da manhã o sol já é uma brasa a sapecar nossos poros, e ao meio-dia já começa a ressecar e exaurir o liquido, já também incerto de nosso corpo; e cada frente fria anunciada já vem com o traseiro queimando), nunca é demais lembrar aos leitores que cada um pode ajudar na empreitada dos ecologistas, com um trabalhinho aqui, uma palavrinha ali, e que sobretudo cada um tenha dó e piedade da atmosfera, no atual descontrole da atividade solar (essa bola de fogo que hoje é um cobertor em tempo de asfixiar todo sinal de vida na já descabelada crosta terrestre). Nosso mestre imaginário, de boa índole e de recatada argúcia, aconselha veementemente: não jogue água fora nem lixo no rio. Arregace as mangas da camisa para lutar contra os males da monocultura, do desmatamento, do assoreamento. Não esmurre a inocência das migalhas que ainda brotam das umidades, nem risque o fósforo nas macegas perto ou mesmo longe da própria casa, tenha dó da vegetação que depende dos animais que dependem dela e dos minerais que alimentam o círculo das infinitas farturas e carências. Tente, com os dons e dotes de uma pessoa de boa vontade, reabilitar a atividade solar em suas saudações dos amanheceres e anoiteceres, bem lá entre as nuvens no limbo azul dos poemas de nossas visões e visagens de eternidade – isso para que o bem estar social de todos os seres fique assegurado, agora e sempre. Não atire pedras nas caixas de marimbondos, nem esmague as minhocas, as tanajuras, as siriricas: ao contrario, chegue terra aos pés de milho e de quiabo; volte a andar a pé nas ruas e estradas de nossa terra natal; dê um lenitivo aos próprios olhos, pois que assim os ossos, as vísceras, as carnes e peles agradecerão; não suje as fontes e correntes do que vai fluir; faça uma sincera reverência à clorofila, outra à fotossíntese. Apague a luz que fere a saúde da treva, economize energia, desligue os motores da balbúrdia inconseqüente, respire o ar azul do verde ambiental. Abençoe (como São Francisco de Assis) a biodiversidade: afinal de contas e de coisas você também merece o beneplácito divino. Seja feliz de agora em diante e deixe de ser bobo: contemple os milagres da natureza, sabendo que você também é um deles. Infelizmente estamos agora conscientes de que os países pobres não podem enriquecer ao nível dos países ricos, porque, se isso acontecer, vai ser necessário aumentar a produção de energia a tal ponto que o aquecimento global vai também aumentar a ponto de impossibilitar a presença da vida no planeta então já de todo em estado de literal ebulição. E os estadistas do mundo inteiro?: De braços cruzados, como palhaços vendo o circo pegar fogo? O que vemos nas acirradas discussões dos plenários internacionais é a perplexidade inoperante (para não dizer culposa e passiva) da chamada classe dirigente, como que a evocar, famigeradamente, a nefanda teoria do “quanto pior, melhor”, que pode ser traduzida na linguagem popular de quem hipocritamente pergunta e ao mesmo tempo responde: “de quem é o mundo? Não é meu nem seu. Então foda-se o raimundo”. Se sabemos que o excesso de energia hoje acionada é que está causando o aquecimento global, é porque sabemos também que sua produção precisa diminuir e não mais crescer. E se é a riqueza dos países que causa o aumento da produção de energia, logo a solução mais plausível é o entendimento das partes (ricos e pobres) para chegar ao consenso do equilíbrio, ou seja: forçar de toda forma humanamente possível que as nações ricas repartem a atual riqueza delas com as nações pobres, de forma a equilibrar a balança ecológica planetária. Isso parece um absurdo? Mas é, ao que tudo indica, a única forma de resolver o problema, empregando a sensatez mais racional das classes dirigentes nacionais num internacional e vivo e piedoso exemplo de amor ao próximo, pregado tão religiosamente em todo mundo. Um amor deveras profundo e não supérfluo, como o que parece vigorar atualmente nas relações públicas das políticas ineficazes, e que parece estar tomando as feições de um ódio muito insano, a lembrar outra jóia metafórica do rifoneiro fatalista: “cada um para si e o diabo para todos”. Que assim não seja, ou melhor, que haja Deus assim na terra como no céu.