POEMAS DE DORA TAVARES (*)
Comecei a lê-los antes de uma viagem, e agora, ao regressar, dediquei-me mais atentamente à leitura deles, que são bons desde quando começaram em suas mãos habilidosas numa serena e contínua incursão conscienciosa, sóbria, honesta, plenamente válida. O leitor abaixa a cabeça, alteia o coração, fica à vontade na paisagem e no momento que ela cria e movimenta a vida no mundo. E que vai sublimando as saliências e os vincos, sem necessidade de concordar ou discordar das partes e do todo de sua poética, sentindo e sabendo que o que está mesmo é aprendendo a enriquecer-se interiormente, conseguindo o cabedal de bens imateriais que não conseguiria na escola e no relacionamento comum do nosso cotidiano; . Não são poemas para entrar e sair dos olhos. São poemas que entram e ficam, ainda mais se pensamos na tradição poética do saudoso LUTE lá em Bom Sucesso (MG), articulando o poder da palavra criativa na boca e nas mãos, influenciando com o dom da naturalidade seus descendentes. Às vezes penso que a velha e rica cidade da região sísmica e aurífera tem os inspirados ares de uma ramificação da clássica Hélade ou da renascentista Arcádia e ele, Lute, um poeta da estirpe de um Homero grego ou do mineiro Gonzaga. Tanta poesia a transpirar dele que chegou a inspirar todos os filhos, um a um, ao longo dos anos. Dora Tavares é a primeira a publicar seu livro, o que abriu caminho para dois irmãos e duas irmãs. Que Deus seja louvado. Gosto muito da poesia dela, principalmente quando alteia a voz e ousa levantar problemas como se assim encontrasse soluções. No poema “Tresvario”, ela diz: “Como achar um ponto de equilíbrio, se o pêndulo do tempo é a própria oscilação?” A pergunta parece uma resposta à uma afirmação de versos de outro poema: “A poesia dorme em cama de ferro quando a ordem é estar alerta é o cochilo do demônio é a insônia de Deus”. E é assim que acabo caindo na tentação de copiar todo um poema sobre o TEMPO: O tempo sinaliza a pele, despede a cor do pêlo, o tempo despe. O tempo e seus momentos, destrói e refaz, o tempo é capaz? O tempo funde em nós palácios e casebres e rouba o que não deu. O tempo é ateu.
(*) Dora Tavares já publicou um livro de poemas e agora publica seus textos em sites e blogs, como o http://www.blocosonline.com.br. É só acessar para ler e conhecer.
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