sexta-feira, dezembro 07, 2007

LAPINHA DE JESUS

De Lázaro Barreto e Adélia Prado. Texto de Natal inspirado nas esculturas de um Presépio Brasileiro de Frei Tiago Kamps – Editora VOZES de Petrópolis (RJ), 1969. 

Dois fragmentos de LB: 1 – O Belo Menino no Presépio. Não estou levando presentes: estou trazendo. Hoje todas as pessoas ganharam Dele, que veio consolar os aflitos, libertar os cativos, reaver a vista dos cegos, emancipar os oprimidos e refazer a tônica dos comportamentos humanos. As pastorinhas estão visitando os presépios e as lapinhas. E além delas os mocorongos e as folias de reis, a zabumba e o turundum, o carimbó e o marambiré, os reisados e as cheganças, os fandangos e os quilombos, os caboclinhos e os moçambiqueiros, os bainanás e as taieiras, os catopés e os foliões, os reis-de-boi e o maracatu, o guaiano e o lundu, os ternos-de-reis e as cantadeiras, os cacumbis e os santos-reis, a bernúncia e a jardineira e o bumba-meu-boi. É a festa no mundo inteiro do Brasil. Pois que se eu posso levar alguma coisa na vida, vou levar a Deus o meu AMOR AO PRÓXIMO. 

2 – Ecos de Guerra e de Paz. Estava mesmo ali uma tapera, a perseguição de malefícios no chão, que se esburacava ou subia no ar - e que depois revirava a vegetação e trazia as nuvens para dentro da palhoça e os tiros de canhões para o céu aberto da batalha campal. As árvores brigavam entre si, abrindo unhas e dentes aos fantoches da noite em pleno dia. E atrás da ex-linda armação das orquídeas os olhos da morte visavam, absolutos, os negros, estúpidos alvos ignorância, contra os inocentes sacrários da natureza Até a presença de um simples besouro causava pânico às crianças indefesas: podia ser um artefato, veneno metálico. E não raro, quando um pássaro pousava ou uma fruta caía, a nesga do chão rebentava, vulcânico. Encolhido, escondido no oco do pau-terra, Quem quer que seja perguntava: por que essa guerrilha toda? os homens que vem do norte e os que vem do sul: por que vem com a face da morte do norte e do sul? De repente uma luz macia alivia a dor de cabeça. E numa luz de nova força corpo humano ressente a alma. E os anjos descem das esferas endireitam o chão e a relva, carcomidos e revirados. Eu, que apartava o gado, parei na porteira. Não aparto mais, nunca mais! E dizia o que ouvia e ouvia o que dizia: “Venha o teu reino, Senhor tua vontade seja feita na terra como no céu”.