terça-feira, outubro 23, 2007

POESIA E POLÍTICA

1 – Quem Tem Medo de Guimarães Rosa? Vamos lê-lo vagarosamente, como se aplicássemos conta-gotas nos olhos necessitados de colírio: - “Amar é querer se abraçar como o passaro que voa. - Espero a lua nova como o cão espera o dono. - Podia ser um carangueijo ou um coração. - O peixe sem rastros na água sem nenhuma memória. - O esquecimento é voluntária covardia. - Se todo animal inspira sempre ternura, que houve, então, com o homem? - O medo grande que de dia e de noite esvoaça, e que pousa na testa da rês como uma dor. - Também os defeitos dos outros são horríveis espelhos. - A queda do homem persiste, como a das cachoeiras. - Nós todos viemos do inferno; alguns ainda estão quentes de lá. - Os santos foram homens que alguma vez acordaram e andaram nos desertos de gelo. - Não ter medo: o mar não se destrói com nenhuma tempestade. - As velhas pedras influem, como os astros; mas só as árvores convivem com a terra impunemente. - A memória nem mesmo sabe andar de costas: o que ela quer é passar a olhar apenas para diante. - Aviso: as sombras todas se equivalem. - Só as pessoas não morrem, tornam a ficar encantadas. - Que vamos, que vamos, até os ponteiros estão afirmando. - Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes. - Lá do céu caiu um cravo/ caiu uma rosa também;/ quem ama e tem saudades/ está à espera de alguém”. - A água que não teme os abismos: a grande incólume. - O bagre sempre tem as barbas de molho. - Em alguma treva – como os mariscos no rochedo – almas estarão secretando seus possíveis futuros corpos? 

2 – Quem Prefere o “Relaxe e Goza?”. O nepotismo brasileiro não é de hoje. O Presidente José Linhares, que governou poucos dias num dos intervalos da ditadura Vargas, nomeou tantos parentes que um dos assessores perguntou-lhe se não temia a opinião pública. E ele respondeu; “Não tenho medo da opinião pública, mas da opinião da família, tenho”. E foi assim que a moda pegou? A antipsiquiatria de Ronald D. Laing: “Num mundo em que os homens considerados normais mataram 100 milhões de seus irmãos nos últimos 50 anos, é difícil traçar uma linha definida entre saúde mental e loucura”. Dante remeteu ao nono círculo infernal, para padecerem eternamente imersos na pez fervente, os traidores do povo. Ou seja: as pessoas eleitas ou nomeadas para zelar pelo bem estar da população, que trocaram as mãos pelos pés, abraçando a orgia administrativa tão comum em todos os escalões dos o governos brasileiros, hoje em dia. Está no Canto XXII da Divina Comédia: “Ao som aterrador dos traseiros da decúria demoníaca, os traidores do povo dançam na negra cova da fervedura betuminosa, eternamente”. A morosidade da justiça é uma forma de anistia imerecida. A demora conduz ao esquecimento, que é o começo de um perdão imerecido. Vilões da historia brasileira que nunca me enganaram: D. Pedro I, Getulio Vargas, Médice, Magalhães Pinto, Ademar de Barros, Paulo Maluf, Eduardo Azeredo, José Sarney, Jader Barbalho, Fernando Collor, Renan (o que tem o olho maior que o bucho, como diria o roceiro se ainda existisse essa categoria de trabalhadores).