sábado, novembro 03, 2007

OS BERROS DA INSÔNIA

Exausto de formigar-me por dentro nas litanias estupendas e de ensangüentar-me por fora no viveiro de pernilongos, a cabeça já latejando à beira do derrame cerebral persigno-me para conjurar o azáfama e recobrar o ânimo esvaído sem desmiolar as nervuras atritadas. Os gritos dos bêbados e drogados vindos intactos e ferinos dos pardieiros adjacentes DEMONHO! - a voz é feminina MEGERA! – a voz é masculina combinam e rimam com os latidos simultâneos de cães desessperados na incúria lá deles nos quarteirões de baixo e de cima de baixo e de cima que chegam ininterruptamente como se já estivessem nos miolos da cabeça da gente. PUTA QUE PARIU! – a voz feminina exclama DO CU DA ÉGUA VOCÊ SAIU! – a voz masculina replica em chicotes e martelos desafinados e tonitroantes. É assim que a noite residencial citadina mantém o fogo do inferno a crepitar em línguas dantescas e abrangentes das chaminés siderúrgicas dos pardieiros malcriados das ruas esburacadas e fétidas das foiçadas de tantas mortes precoces e famélicas famélicas na indócil refrega entre algozes e vítimas da comunidade.