quinta-feira, dezembro 13, 2007

MINHAS QUERIDAS IRMÃS

Meu pai era filho único de uma família prolífera (os outros dez irmãos e irmãs de meu avô povoaram vastos recantos de Marilândia, São Sebastião do Oeste, Pedra do Indaiá e Divinópolis). Casou três vezes. Do primeiro casamento teve a filha Corina, que viveu quase cem anos, depois de estudar em Cláudio (entre suas colegas figurava a estadista Risoleta Neves, que iluminou a história política brasileira), de ser professora na Bocaina. Casou-se e viveu em Marilândia, Carmo da Mata e Belo Horizonte, onde deixou magníficos descendentes. Do segundo casamento meu pai não teve filhos, mas criou, com a esposa Constância Tavares, sua prima, sete filhos de outras famílias. No terceiro casamento, com mamãe, Isolina Gonçalves Guimarães, teve quatro filhos: a Devanir, eu, a Maria Vitória e a Maria José. Ele era fazendeiro, comerciante, veterinário, músico e poeta. Quando faleceu em 1941, deixou muitos bens imóveis e muitos problemas para minha mãe, que então não passava de uma moça nova e bonita, órfã de pai, desprotegida socialmente, habilitada nas prendas domésticas e nas artes de costureira de vestes femininas. Ela não soube e não pôde conservar os bens herdados (fazenda, sítio, casas). Os corruptos da época (políticos e autoridades) trapacearam na documentação dos inventários (possuo cópias) e apropriaram-se indevidamente dos bens da ingênua viúva e dos órfãos menores (eu tinha apenas seis anos de idade). Assim ela teve muita dificuldade para criar-nos com a dignidade que, graças a Ela e a Deus, contraímos e mantemos pela vida afora. A irmã Devanir (dois anos acima de mim) foi a que mais lutou e a que mais sofreu. Eu, um arrimo de família desde a mais tenra idade, tive que ir para Belo Horizonte, na adolescência, valendo-me da bondade de parentes para conseguir um trabalho de balconista e assim poder estudar à noite. A Devanir, na juventude, fez um Curso de Aperfeiçoamento Profissional nas escolas especializadas do Rosário e do Gafanhoto, para depois ocupar o cargo de Diretora da Escola Rural de Marilândia, então criada pelo governo estadual. A filha dela, Elaine, emprestou-me dela uma caderneta de anotações das colegas, na véspera da conclusão do Curso, quando todas iniciavam as recíprocas despedidas. As anotações são curiosas e interessantes, revelam o espírito de camaradagem que vigorava naquele ambiente purificado pela singeleza e o desprendimento e o patriotismo da mocidade da época (1950). O caderninho contém 52 páginas, apresentando em diversidades estilísticas as caligrafias e redações das lembranças e despedidas do fim do Curso, com a docilidade e a meiguice de cada uma das amigas e colegas. São de moças de Januária (Emilia Carneiro), Belo Horizonte (Maria José Dutra), Itaguara (Elza Nogueira Penido, Edite Gonçalves de Oliveira), Luz (Olinda Pereira Gontijo, Rita Cardoso), Cláudio (Maria Edite Frazão, Inês de Oliveira Rocha), Itapecerica (Irene Faria Mateus), Djalma Dutra (Lourdinha Vaz Bueno), Amadeu Lacerda (Gessi Assis), Santo Antônio do Monte (Alexandrina Lacerda), Araguari (Beatriz Teixeira), Betim (Ilda Tolentino Schmidt), São Sebastião do Paraíso (Maria de Lourdes Gaudi), Guapé (Onofras Vinhas, Terezinha Vinhas), Francisco Braz (Terezinha Raposo), Rio Preto (Creuza Salgado Lamanna, Ana Fagundes de Paula), Azurita (Ivone de Souza), Abaeté (Maria Eduarda Arruda), Dores do Indaiá (Orozina Maria, Maria Dalva Coelho), Divinópolis (Aurora, Maria do Carmo Vaz da Silva, Julieta, Geraldo Afonso Lima (professor), Elci de Oliveira, Martha Eugênia Silva, Frei Carlos Ofm. (professor), Maria de Lourdes Teixeira, Odi Silva, Maria Moura Mazinha e João Soares Teixeira (também professor). Todas as mensagens são espontâneas, amistosas, afetivas, provando que os vínculos eram realmente amistosos, afetivos, de boa e salutar convivência entre seres da mesma espécie e do mesmo estofo moral e psicológico. Exemplifico pinçando algumas: “Prezada Devanir. Aqui deixo o meu adeus e um abraço de sua muito sincera amiguinha, para que quando você abrir esta página, lembrares de mim” (Elza Nogueira Penido, Itaguara). “Querida Devanir, nada tenho a deixar para você, mas para que não esqueça de mim, deixo abaixo o meu endereço” (Ilda Tolentino, Betim). “Dêva, sua graça pessoal muito me cativou e mais ainda sua disposição para o trabalho. Tenho certeza que muitos são os que aproveitarão com sua instrução. Continue sempre assim.” (Maria de Lourdes, S. Sebastião do Paraíso). “Devanir, você deixou no endereço abaixo uma amiga, e nesta amiga uma saudade” (Martha Eugênia Silva, Divinópolis). “Devanir, siga o seu caminho, tendo como guia e exemplo a nossa Mãe M. S. Santíssima” (Maria de Lourdes Teixeira, Divinópolis, 7/9/50).

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Prezado Sr Lazaro,
Gostaria de saber se o senhor fez algum estudo genealógico de famílias de Divinópolis e região.

Obrigada

Christiane Mazzola

2:06 PM  

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