segunda-feira, junho 23, 2008

POESIA E POLÍTICA EM DIVINÓPOLIS

Não sou um resenhista contumaz porque esta não é a minha ilha intelectual. Minha ilha desdobra-se territorialmente nos caminhos e descaminhos da indefinição proposital – como o pássaro que prefere aspirar e respirar muitas espécies vegetais em vez de fixar-se em apenas uma ou duas. Transigindo, mesmo canhestramente, nos ramos da pesquisa e da criatividade, tento captar e exprimir os passos mais significativos do paralelismo histórico do notável confronto entre a Piedade (Poesia) e a Violência (Política) nas mais explícitas relações humanas ao longo da história da civilização. Em Divinópolis, na minha (questionável?) opinião, o exercício cultural da Poesia supera em quantidade e qualidade o da Política. Numa pesquisa sociológica nas últimas décadas do século passado, cheguei a levantar a existência na cidade de cerca de 50 escritores, publicando seus maduros e verdes textos em prosa e verso. Se não batiam os políticos em (em atividade na mesma época) em quantidade, venciam pelo menos em qualidade. E essa evidência se mantém ao longo do tempo. Envolvido no árduo trabalho de revisar e digitar meus livros inéditos, não consigo identificar nem acompanhar a marcha criativa dos atuais artistas e escritores da cidade, experiência que o Professor, Doutor e Escritor Pedro Pires Bessa, está desenvolvendo com muita competência e rigor. Se contei 50 escritores militantes (não no impiedoso e arrivista sentido petista, é claro) naquela época, hoje a quantidade deve ter dobrado, em ambas as atividades. Mas persistindo na histórica contraposição comportamental da Piedade (Poesia) versus Violência (Política), fica evidenciado que o resultado amplamente benéfico, socialmente falando, é o Poético (que, se não faz bem, mal também não faz), ficando com o Político o lado pernicioso, uma vez que não fazendo o Bem, só pode fazer o Mal à vida e ao mundo. Sei que o assunto é polêmico e que pode haver divergência – mas que me perdoe o leitor, mas a opinião é pessoal, contraída ainda em minha já longínqua juventude. Disponho aqui, diante de mim, da exemplaridade do trabalho intelectual dos ativistas literários e os últimos livros publicados na cidade, que prazerosamente relaciono, em linhas gerais: 1 – O trabalho profícuo e incansável de Pedro Pires Bessa, não só escrevendo como produzindo textos de expressão e de divulgação da riqueza cultural da cidade. 2 – O mesmo podemos dizer do trabalho de Mercemiro de Oliveira na editoria da revista da Academia Divinopolitana de Letras e também no pronto-socorro que presta aos novos autores na área gramatical e editorial. 3 – Igualmente temos que ressaltar o trabalho também objetivo, coerente e criativo de Carlos Antônio Lopes Corrêa, junto às novas gerações de artistas e de escritores da cidade. Paciência, boa vontade e competência não lhe têm faltado, ao longo do tempo. 4 – O mesmo podemos dizer de Marlene Moreira, autora da mais bela e veraz poesia, agora de braços abertos acolhendo e divulgando objetivamente o trabalho dos velhos (?) e novos (!) autores divinopolitanos nas prestigiosas páginas deste MAGAZINE. 5 – Citamos, também, a “Autobiografia do PROFESSOR LARA, na qual ele reproduza os passos de sua vitoriosa jornada no campo da Pedagogia. 6 – E também o belo livro “DR. SEBASTIÃO, O MÉDICO DO POVO”, do incansável pesquisador Mauro Corgozinho Raposo, no qual ele dá ênfase e prioridade ao lado humano, hábil e generoso de um verdadeiro apóstolo da medicina mais criteriosa, beneficente e altamente científica. Aplaudimos essa opção do Mauro, reconhecendo (de viva participação) a importância medicinal do Dr. Sebastião, acima de sua importância meramente política. 7 – É sempre com renovado prazer que abrimos cada novo livro do teatrólogo e poeta Antônio D. Franco, agora com a peça em livro “FANTASMAS – Uma Comédia do Outro Mundo”. Notamos que felizmente (e finalmente) o talentoso autor está desengavetando seus briosos originais e brindando-nos com os frutos de sua talentosa perspicácia, dando plena vazão à sua espontânea e profunda visão criativa, que não visa exibir erudição nem auto-ajudar o leitor-espectador; o que faz é o que deve ser feito pelo verdadeiro portador de talento e sensibilidade: iluminar o que, na obscuridade, está prenhe de veracidade e beleza. ADENDO: A violência política ataca novamente. No Brasil do Lula, segundo Reinaldo Azevedo (VEJA 18/06/08) as ONGs são “instrumentos de terceirização do governo: de 1999 a 2007 sairam do orçamento da União a cifra corrigida de 50 bilhões de reais – só no ano passado 7.670 entidades receberam essa “ajuda de custo” (?)... “Centrais sindicais, sindicatos de empregados e de patrões, sindicalistas, jornalistas, políticos, artistas, mulheres, maridos e ex-cônjuges de toda essa gente, empresas, igrejas, movimentos sociais, partidos” – todos levam grana do governo! De forma que “as ONGs passaram a ser ONGGs, ou seja, Organizações Não Governamentais, Governamentais!”