OS LÁBIOS DO AMOR
O corpo até que pode ter seus defeitos, pode sim, mas é despido de outras culpas. Se as entranhas cerebrais (onde se maquinam as maldades humanas) possuíssem a mesma inteireza, a mesma beleza do sutil pregueado dos lábios, ah! Ninguém defrontaria os insultos e os desaforos, nem as maledicências da esquisitice do caráter atrabiliário, forjado nas ancestrais dissensões familiares, dos litígios inorgânicos da mesma esquisitice... O corpo pode ter suas lesões, dores, imperfeições, mas não atraca nem amaldiçoa, nunca sai de si para injuriar as outras pessoas: é alegre ou triste, feio ou bonito em si mesmo e tem (tem mesmo?) vida própria, sujeito às intempéries do meio ambiental, onde sua presença ilumina alguma coisa. Inocente das culpas individuais, sociais e mundiais, sozinho, solerte ou altaneiro em cada indivíduo, obediente aos mandos e desmandos da mente que bola e rebola o amor e o ódio das criaturas, da simpatia e da idiossincrasia dos conviventes, das próprias articulações mentais que às vezes exorbitam das peças mais que perfeitas da estrutura física dos seres vivos em geral, geralmente contraditórios entre si e em si mesmos, e em si mesmos.
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