DIETER ROOS, O COSMOPOLITA EMPÍRICO
Há muito que o conheço e admiro, sem jamais ter escrito algo a respeito dele. É que a pessoa e a obra dele sempre estiveram acima de meu entendimento. Só agora soube, através de amigos comuns, que ele possui uma vivência, um currículo consistente, uma sólida formação cultural de sua Alemanha das históricas celebridades literárias e filosóficas (apesar de alguns paradigmas políticos iracundos). Bem aquinhoado intelectualmente para enfrentar as incertezas dos mundos primitivos da África e das Américas, ele empregou o melhor de suas tendências inatas para assimilar a essência de outras existências, na tentativa de situar as causas e os efeitos da luta pela vida diante de tantas animosidades e de tantas complacências num mundo de diversificados padrões, de antagônicas mentalidades, tudo porque numa terra redonda como as nossa os climas são diferentes, as culturas (materiais e imateriais) são diferentes, assim como as superfícies e os conteúdos das coisas e das pessoas. Dieter, ao contrário do hippie sem lenço e sem documento do conhecido figurino, fez o périplo dos continentes em sã consciência, sabendo onde andava e o que via, cumprindo uma empreitada pessoal subsidiada socialmente por benéfico órgão público de sua terra, interessado em suas andanças e pesquisas antropogeográficas. Antes de chegar ao Brasil, ele cursou, por assim dizer, o subdesenvolvimento de muitas outras partes do planeta, uma empreitada que desestimularia qualquer estudioso acadêmico e que estimulou o empírico aprendiz do que para o nosso saudoso Drummond representa o sentimento do mundo. Chegando ao Brasil alcançou Minas, fixando-se primeiro num sitio rural no município de Carmo da Mata e depois em nossa divinopolitana cidade, constituindo famílias nucleares e vínculos sociais bem definidos e consistentes. Já publicou poemas em suábio, alemão, inglês, francês e principalmente em língua portuguesa que domina plenamente na pronúncia e na escrita. Já participou com os poemas e suas grafias plásticas originalíssimas em exposições na África, e nos países: França, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Chile, Uruguai, Argentina e, naturalmente, no Brasil. Depois de ler e reler seus opúsculos artesanais e de imaginar o transcorrer de suas peregrinações mundo afora, entendo, admiro e aplaudo sua prática criativa, seus juízos e imagens nos jogos de palavras, na composição dos poemas, na espontânea comunicabilidade de sua maneira de ver, sentir e exprimir a vida difícil e preciosa neste mundo hostil e maravilhoso. Não posso nem devo ficar aqui tentando chamar a atenção do leitor para a importância dos poemas, sem mostrar, pelo menos, um pouco deles. É com prazer que transcrevo alguns – só para dar uma idéia da extensão e da profundidade do conjunto. Eis os pingos de água na folha do inhame: 1) - “Meu deus! Meu deus! Porque te abandonei!” 2) –“Auto-retrato sem pincel: tenho que pôr ainda/ muitos ovos! Falou o pintor/ e continuou a pintar/ feliz/ como uma galinha”. 3) - Em sua “Carteira de Identidade: “Passeando de bicicleta/ ultrapassei um lavrador/ indo para a roça:/ a enxada no seu bagageiro/ pesou menos/ que as minhocas/ na minha cabeça”. 4) – “a criança na criança: a criança no útero que é uma criança na mãe que é uma criança no casal que é uma criança na terra que é uma criança no sistema solar que é uma criança na via láctea que é uma criança no universo que é uma criança no útero que é uma criança na mãe que é uma criança no casal que é uma criança na terra que é uma criança no sistema solar que é uma criança na via láctea que é uma criança no universo que é uma criança....
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