sexta-feira, novembro 28, 2008

AS NOTÍCIAS PERMANENTES

I - A Lamentável Decepção. A minha desilusão com a metodologia governamental do PT não é gratuita nem desarrazoada. Os motivos, infelizmente, são contundentes, resultantes da tardia certeza de um engodo perpetrado por ele (PT) e sofrido pelo malogrado eleitor, que seja quem for é, pelo menos, alguém que ao votar não assinou uma promissória em branco, que esperava uma gestão menos decepcionante. Em linhas gerais, em que se resume tamanha decepção? O declínio da moralidade, a perda da dignidade, sinais que contaminam todos os segmentos sociais, de tal maneira que o homem comum, que não se deixa corromper, passa a ter medo até de viver, sabendo do risco que corre se sair de casa e ser assaltado na rua ou se não sair de e ser, ainda assim, assaltado. O que afirmo parece exagero, mas não é. A onda de criminalidade aumenta a cada dia em todas as partes do país – e isso acontece porque os maus exemplos do cometimento e da impunidade vêm de cima (como certamente viriam se os exemplos fossem bons). Tenho certeza que se o presidente não desse as costas aos homens de bem, que influenciaram a diferença eleitoral que lhe deu a vitória do primeiro mandato, a atual decepção brasileira não seria tão clamorosa.. Abraçando a banda podre da política, que aceitava como um necessário trunfo a chamada militância petista, fisiológica, sedenta pelos ociosos cargos públicos e altos salários (sempre com a mão na roda das fraudes e subornos, extorsões, propinas e outras falcatruas) – o governo afastou, os homens públicos mais afeitos à nobreza de caráter e à aversão a toda e qualquer forma de corrupção. Nem preciso citar os nomes dos que se afastaram nem os dos que se aproximaram (insaciáveis glutões do arrivismo mais descarado: são notórios nas permanentes notícias de nosso dia-a-dia).). Sinto hoje que fui muito ingênuo em acreditar que o presidente iria preterir o lado podre do adesismo e preferir o lado sadio do apoio eleitoral recebido. A decepção é ainda mais lamentável porque mesmo sabendo que ele não iria “ignorar” os “companheiros”, eu acreditava que ele não desprezaria os melhores pontos de vista e de apoio, em termos não só de competência administrativa como de exemplos de probidade, moralidade, dignidade. Mas desprezou, não acintosamente, mas pelo mau hábito de preterir os bons e preferir os ruins. E o que acabou acontecendo foi a traição dos vencedores aos verdadeiros inspiradores e sustentáculos da vitória eleitoral do primeiro mandato. A do segundo mandato não conta, uma vez que a fruta já estava devidamente bichada. O que então passou a predominar em escala crescente foi o primado da mediocridade e da banalização acionando em todos os quadrantes a sanha do saque e da fraude: a corrupção como norma de ação em todos os segmentos governamentais de todo o país, fadado a se perpetuar como uma reles republiqueta latino-americana. Se todo esse descalabro ficasse apenas nisso, ficaríamos aguardando uma possível renovação a curto ou a médio prazo. Mas oito anos de ludibrio não são oito dias ou oito meses. As marcas são profundas. Correm mesmo o risco de se perpetuarem? Vade retro. 2 – Do Compêndio das Notícias Permanentes (*). ULISSES, romance de James Joyce. A leitura é difícil, quase um trabalho braçal. Parece que o autor, depois de saber tudo, prefere começar do nada, seguindo retroativamente, sempre para o lado do nada que tudo é e que fica imperceptível, normalmente. A ânsia dele, genial, de tentar apreender, numa redoma, o mistério desmedido. São quase novecentas páginas, uma narrativa ciclópica, na qual os mitos homéricos são trazidos para o nosso tempo, revividos nas vinte e quatro horas de um dos personagens. Suprimindo a individualidade romanesca, Joyce abriu um novo itinerário da linguagem literária, exprimindo em blocos as sensações totais do ser humano, precário e ambicioso, no contexto circunstancial de sua terrena existência. Isso enquanto tenta transcrever um diálogo e vai captando e transmitindo as sensações fisiológicas, visuais e intelectuais das pessoas envolvidas e dele próprio, narrador, que em certos momentos chega a dar a impressão que não está escrevendo com as mãos, mas com as vísceras, os ossos, o paladar, o tato – como se isso fosse possível. Algo muito novo pra o velho mundo da tranqüilidade linear. (*) – Fragmento de um texto escrito em 1986, ainda inédito.