CARTA ABERTA AOS POLUIDORES
Diante da inclemência do baixo índice pluviométrico (às oito horas da manhã o sol já é uma brasa a sapecar nossos poros; ao meio-dia já resseca e exaure o líquido, agora incerto de nosso corpo – e cada frente fria anunciada já vem com sua traseira queimando). Lembro-lhes, caros inimigos da natureza, que vocês podem ajudar os ecologistas, com um cuidadinho de manhã, outro de tarde e outro de noite. Tenham piedade da atmosfera, que não mais controla a atividade solar – essa descomunal, aprazível e danosa bola de fogo, que hoje é um cobertor que começa a asfixiar todo sinal impúbere de vida na já descabelada crosta terrestre. Não joguem água fora nem lixo no rio; não façam loas à monocultura, ao desmatamento, ao assoreamento: não esmurrem a inocência das migalhas nem risquem o pauzinho de fósforo nas macegas. Tenham dó da atmosfera, que hoje não controla mais a atividade solar nas planilhas do bem estar social das nuvens, no limbo vulnerável. Tenham piedade das formigas vítimas tontas de tantos seres desumanos (elas, coitadas, que não sabem olhar para cima); não atirem pedras nas caixas de marimbondos, não esmaguem as minhocas, as tanajuras, as aranhas e siriricas: ao contrário: amontoem grãos de terra ao redor dos pés de milho e de quiabo e de abóboras; voltem, lampeiros e alegres, a andar a pé nas ruas e estradas, livrando o ar de tantos venenos: dêem um lenitivo aos próprios olhos (os ossos, as vísceras, as carnes e peles agradecerão); não sujem as fontes e correntes do que vai fluir; façam uma sincera reverência à clorofila e à fotossíntese; apague a luz elétrica quando ela começa a ferir a saúde da treva; desliguem os motores da balbúrdia inconseqüente; respirem o ar azul do verde ambiental.... Abençoem, como São Francisco de Assis, a biodiversidade: afinal de contas e de coisas vocês também merecem o beneplácito da divina natureza. Façam o possível para ajudar as pessoas de bem, que não matam as capivaras, as saracuras, os jacarés: sejam felizes de agora em diante, sabendo que somos irmãos dos vegetais e dos minerais e dos outros animais do planeta. Não deixem que as hordas de vândalos cortem as árvores de nossa vida, plantadas na naturalidade de seus hábitos alimentares e respiratórios, bem ali nos quintais, nas ruas e na vastidão territorial, em todos os quadrantes e círculos, plantadas para salvar o mundo do esturricador, do finalíssimo apocalipse, que já se anuncia nos estrépitos de tantos avisos prévios.
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