SITUAÇÕES INVOLUNTÁRIAS
Os versos que se perderam na surdina, entre o clarão e a névoa dos instantes lembrados e não colhidos... A lembrança é coerente, o olvido é indeciso. O som de um violão ou de uma flauta pode ser reconhecido (audível, palpável) numa voz humana, se bem afinada. Assim como os olhos que flertam e não simplesmente olham. A escuridão do tempo extirpa até a memória do antigo amor, que julgávamos eternizado? A crosta terrestre boiando sobre o magma... A colisão dos asteróides aproximados... O encontro fatal das placas tectônicas do subsolo... O vulcão a explodir, a liberar seu gás carbônico, seu dióxido de enxofre, a brasa viva... Viver é muito perigoso, mesmo! O medo é o novo nome do país? Se saímos de casa, somos assaltados; se ficamos em casa, estamos aprisionados. O vento sacode as árvores do quintal: pode ser o sopro de nossos obsessores da baixa atmosfera, que azucrinam nossas idéias, aguçam os nossos males, disparam infartos e derrames contra a nossa debilidade? Se ainda estamos neste baixo astral de terra magoada, amassando o barro do dia enfadonho, expiando culpas no cartório e pecados na sacristia, é porque não somos flores que se cheirem. Somos o ranzinza caído e pisoteado: o torpe vencedor ou o inocente vencido? O dia longo neste envoltório de gazes densos atravessa o rio das fezes e das urinas... Por que a morte definitiva não vem logo de uma vez? Em seu lugar vem o tempo retrógrado, uma eternidade em pedaços esfarrapados.
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