sábado, outubro 03, 2009

POEMAS TCHECOS

PALAVRAS PALAVRAS PALAVRAS – Karel Sis (*). As palavras sem pátria Voam de boca em boca Entram numa orelha e saem em outra. As palavras sem dono Vagam nos periódicos E em cada esquina Levantam sua pata. As palavras dos livros Estão contentes, negras, sobre o branco Vistas em folganças Ocultas da brasa do fogo e do fio da espada.

(*) Traduzido do tcheco para o castelhano por Clara Janés e do castelhano por Lázaro Barreto. 

NÊNIA PARA UM ADULTO – Jana Pohanková (*). No silêncio Podemos ouvir as batidas do coração Enquanto as lamúrias da noite vão Vão caudalosas no meio das águas Pesa A sua boca dormindo sobre o meu braço E o branco barco da respiração cai, Cai e depois se eleva Sobre o mar antes da aurora. A ternura Aos ouvidos submissos levamos. E os cavalos relincham para as estrelas Ao serem levados para os estábulos. 

(*) Traduzido do tcheco para o castelhano por Clara Janés e do castelhano por LB. 

A SOMBRA DE UMA PEDRA MOVEDIÇA – Jarmila Urbánková (*). Eu era uma menina medrosa: temia os despenhadeiros, seus longos deslizamentos, muito mais do que as outras crianças. Assustavam-me os fantasmas. Os fantasmas assustavam-me. Uma vez senti medo da sombra de uma pedra movediça, uma pedra recoberta de musgo, metida entre as rochas, a rodar, a rodar, a rodar daquela altura inalcansável, a sombrear, a sombrear, a sombrear todo o caminho e os campos e as casas, as formigas e a minha pessoa. Até que com um obscuro estrondo, partiu em duas partes o campanário, inundou o pântano cuja água cobriu tudo que de vivo havia ali. Tudo que de vivo havia ali ficou inerte. A pedra movediça não derrubou muitos adornos da região, mas uma sombra terrível desceu, desceu sobre a minha infância. (*) Tradução do tcheco para o castelhano por Clara Janés e do castelhano por LB. 

Todos os poemas foram transcritos da Revista “Panorama de La Literatura Checa”, Praga 1988, números 9 e 10, enviados ao LB pela escritora Pavla Lidmilová.