terça-feira, março 16, 2010

AFINIDADES ELETIVAS

Tivemos (eu e a esposa Inês) o prazer de comparecer ao lançamento do livro ALGUNS BARRETOS DE BARRA LONGA, de autoria de José Alberto Barreto, em Belo Horizonte. Uma festa supimpa, malgrado o tempo chuvoso que impediu-nos de aproveitá-la melhormente. Mas conseguimos o livro com o autógrafo e a dedicatória, na qual ele deixa o abraço cordial do “quase primo” Quase? Isso mesmo. Na época (novembro de 2002) eu pesquisava a genealogia da Família Oliveira Barreto e alimentava a esperança de ligar os nossos Barretos de São João Del Rei com os de Barra Longa, região privilegiada dos pioneiros Trindade Barreto (professores, políticos, jornalistas, historiadores), que deram vida saudável à mitológica região do berço de toda a mineiridade. O livro de 175 páginas, fartamente ilustrado, reforçou minha inspiração do trabalho que na época ocupava todo o meu esforço – o levantamento genealógico da Família Oliveira Barreto, que deve interligar-se, historicamente, com o “quase primo”, nas origens portuguesas. Interessante o que ele afirma de “quase primo”, uma vez que somos, também (e só agora descobrimos), quase contemporâneos e quase vizinhos na adolescência. Nasci em 1934 e ele em 1936. Ele mudou-se para Belo Horizonte em 1943 e eu em 1947. Eu trabalhava na esquina da Paraná com Amazonas e estudava na Carijós – e ele estudava num colégio da esquina da Olegário Maciel com Tamoios. Ele morava na Rua Itapecerica (nome da sede municipal de minha terra natal), a mesma em que passava na ida e volta no bonde para o bairro Lagoinha, onde vivi nos primeiros tempos de minha longa estadia na capital mineira. Mas uma diferença logo se levanta e eu a enfatizo: os livros publicados (cinco, que estão bem aqui ao meu lado) são mais bonitos e bem mais legíveis do que os meus. Famílias de fichas limpas? Leio na página 146: “Nos Catálogos da Justiça Eclesiástica, onde são nomeadas as pessoas envolvidas em processos, nenhum membro da família dos Barretos”. Idêntica constatação fiz, ao longo da pesquisa de 284 páginas, cobrindo o período de 1767 a 2005). Um caso de prisão foi logo elucidado: um irmão de meu bisavô esteve preso, mas foi logo liberado ao descobrir e provar que o verdadeiro réu era o acusador dele. Os outros livros dele são: 1) ABC de BH- pitoresco, poético, genealógico, versátil. Cita duas divinopolitanas notórias: Adélia Prado uma das melhores poetas brasileiras, e Luzia Ferreira, Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. 2) IBYTIRA, que afetuosamente dedica à Miriam: “a menina bonita que conheci em Ibytira em 1961 e cujo caminho, a partir daí, passou a ser o meu também”. Lugarejo aprazível, idílico, marcado pelo esplendor e a agonia do sistema ferroviário brasileiro. Destinada a ser uma cidade progressista e atraente, “parou” no tempo e perdeu até mesmo seu belo visual da bucólica estaçãozinha. 3) ACALANTOS E GENEALOGIA. Fotos e textos sintéticos de muito bom gosto, de refinada opção do autor. Um caprichoso álbum de Natal, que ele oferece à “Miriam, sempre de mãos dadas comigo, tornando-nos elos da grande corrente que liga nossos e avós a nossos filhos e netos; aos filhos Patrícia, Letícia, Antônio Júlio, José Alberto e Cecília; aos sobrinhos (dezenas deles); e especialmente para os filhos de meus filhos, João Pedro, Clara, Ana Paula e Cecília”. 4) MINICONTOS. São 34, todos bons, enfáticos, sugestivos, expressivos. Por falta de espaço, transcreverei apenas dois, o primeiro chama-se PROFESSORA: “Maria Gertrudes, oito anos, entrega a prova e diz: - Mércia está passando cola pra Juvita. - Ah, é? Vá ficar de pé, de costas. Mércia ao lado dela, Juvita também. A régua era uma arma. Foi usada três vezes. - Faça a prova sozinha. - Não passe cola. - Nunca acuse uma colega. O segundo “No Hospital”: “Sentiu dor, suave embora. Procurou médico. Exames feitos, sentado em uma cadeira, ouviu: - Tudo bem com o senhor. - Graças a Deus, doutor. Obrigado. A cabeça pendeu para um dos ombros. Estava morto.