INSTANTE FEÉRICO (2)
De onde estava só podia ver o dorso e não a palma da mão dela. Os dedos elegantes, francamente desnudos - pentagrama chopiniano escrevendo o belo prazer, o belo prazer de articular os emblemas do prelúdio e do epílogo da façanha vital, sem sair do lugar em que estava. Os predicados naturais exorcizam os anátemas nas profundezas do poço abjurado. O polegar e o indicador seguram a página do jornal noticioso. Os outros dedos descansam na mão carinhosa, cada qual com sua específica palavra de amor negado ou obtido, a esquecerem o frio de tantos invernos, a escreverem o calor daquele momento, a refazerem das cinzas o fogo que volta a crepitar, que volta a crepitar (no meio das glicínias).
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