terça-feira, abril 27, 2010

A TERCEIRA IDADE

A vida é um sorriso que faz chorar. E a morte, o que será? A morte é uma lágrima que faz sorrir? A velhice vem de longe e chega perto. Começa com a sombrinha nos olhos, as manchas solares no rosto imberbe, O descompasso nas pernas bambeadas. Culmina apontando o norte da morte (que está sempre ao lado de quem está vivo), o fim de uma ópera de remoto começo. A velhice: primeiro estampa suas dobras na lamentação crepuscular. Depois remói os achaques, num sintoma de bambeza nas pernas, num grito acolá de palpitações e secreções, além de ferimentos de anímicas perebas. Repercute nas mágoas viscerais, nas punhaladas dos diabos e das diabetes. Logo surgem as cãs duelando com a calvície. E também a íngua mental e o descalabro sensitivo. O canal da uretra, descabido. A próstata, a próstata, a próstata. A glicose amargurando. A pressão arterial acuada ao encontro da cirrose hepática, a disfunção disso e daquilo. Uma angina que vem de longe pousa no peito. O irremediável esôfago de barret. A finalíssima senilidade atrofiando as vértebras. As manchas tempestuosas no excesso de peles das gritantes feiúras faciais e a disritimia entre o desejo e a função sexual, como se um ainda estivesse atento e fervoroso e a outra afastando-se para as colinas, distanciando cada vez mais nos cinzentos horizontes, que continuam movendo-se para os círculos de outras limitações.