JUSTIÇA INJUSTA
Dois assuntos desconcertantes que hoje transitam na mídia brasileira: alguns executores e funcionários do Direito Civil, exorbitando de seus deveres, negativamente – e as indenizações milionárias de alguns apaniguados do sistema, incluindo aí os humoristas (sic!) Ziraldo e Jaguar, extraidas do (nosso) dinheiro público, simplesmente por terem sido presos no espaço de apenas seis dias, pela chamada repressão governamental do regime militar. Um absurdo tão grande que até o colega deles, Millôr Fernandes, fez uma piada, dizendo não saber que os dois tinham feito um investimento tão rendoso.
Pois é. Quando penso nas vicissitudes que minha família passou ao longo de tantos anos, com minha mãe viúva, com quatro filhos na primeira infância para criar, sinto que a maledicência brasileira não é de hoje – mas que já podia ter sido exorcizada.
Meu pai celebrou seu primeiro casamento com Maria Archangela de São José em 14/06/1901 e ficou viúva dela (sem filhos, mas os dois adotaram e criaram sete crianças, de pais paupérrimos, da infância até o casamento de todos) em 23\01\1931. Consegui estes dados em pesquisas de cartórios e no Arquivo Público de Itapecerica.
No inventário pós-morte consta, além dos bens no arraial do Desterro (hoje Marilândia), a Fazenda Nova do Lavapés,uma enorme e bela área de campos, cerrados, córregos e cultura.
Pois é. Depois de enviuvar-se, ele casou com Isolina Gonçalves Guimarães em 12\07\1932, com quem teve quatro filhos: Devanir, Lázaro, Vitória e Maria José, falecendo em 01\11\1940. No Inventário (fajuto) dos bens deixados consta apenas a pequena fazenda da Fontinha, quatro casas e um quintalão enorme todo cercado de valos (os ascendentes de meu pai – José Valentim Barreto – eram ricos e poderosos, praticamente os fundadores do arraial).
O fato de a enorme Fazenda Nova do Lavapés não constar no Inventário indica claramente que houve fraude das chamadas “autoridades”. Alguém apropriou-se dela, indevidamente, no espaço de tempo que vai do falecimento em 1940 até a data do inventário, anos depois. E depois dizem que a terra é um bem que não pode ser roubado. Minha mãe não a vendeu, mas ficou sem ela. Infelizmente ela era analfabeta, órfã de pai e possuidora de parentes intelectualmente desvalidos.
Pois é. Ela foi ludibriada. Não posso entender como e porque a “justiça” da época aceitou o fato de ela ser analfabeta e passar Procuração a um advogado (rábula?) com os dizeres de estar escrevendo o texto “do próprio punho de livre e espontânea vontade”- tudo assim com uma caligrafia feminina de professora (meu espanto foi tão grande que até consegui uma cópia de tal inventário).
Ela, exercendo suas exímias aptidões de costureira e bordadeira conseguiu criar os filhos nos bons conceitos da civilização cristã. Mas o que mais me aborrece e indigna é o calote (de que somos vítimas) do depósito de oito contos de réis (muito dinheiro em 1945) depositados na antiga Caixa Econômica Estadual (que repassou depois para a Caixa Econômica Federal e depois para o Banco do Brasil), em nome de Devanir, Lázaro e Maria José. O depósito a juros fixos só poderia ser sacado depois que os clientes atingissem a maioridade (naquele tempo não existia esta assombração chamada inflação)... Esse dinheiro é originário da venda (legal) por minha mãe já viúva da Fazendinha da Fontinha, uma beleza de propriedade cercada de valos e arame farpado, com três nascentes de água potável, uma enorme capoeira, um pasto repleto de goiabeiras, araticuns e araçás, que começava na porteira em plena rua do Arraial e descia na divisa da rua do Areião e seguia pelo caminho de terra até a da Estação da Estrada de Ferro da Rede Mineira de Viação. Foi vendida, na época, por dezesseis contos de réis – e hoje cada uma das três partes em que foi dividida deve valer uma fortuna.
Pois é. A Vitória foi a única que conseguiu sacar sua parte porque contraiu núpcias antes de atingir a maioridade. Mas o dinheiro dos outros foi desvalorizando através dos anos por artes e ofícios do sistema financeiro, de tal maneira que hoje nem sei se ainda existe alguma migalha.
E é aí que não posso entender porque uns pilantras apaniguados recebem milhões de uma vez e continuam recebendo polpudas mensalidades....
E foi assim que a nossa Fazenda Nova ficou velha nas mãos indignas de outras pessoas. Não foi vendida. Não foi doada. Foi perdida, lamentavelmente, como se fosse um bem imaterial. Era, na verdade, uma prenda,uma herança familiar. Um bem valioso , roubado sub-repticiamente por ladrões safados e vulgares.
Porca miséria, heim?
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