NOVOS POEMAS
1 – As Palavras.
Preciso devolver ao jargão corriqueiro
As palavras obsoletas?
Transferi-las da inocuidade do monólogo
Para a loquacidade do diálogo?
Preciso surrupiá-las do dicionário
(limbo imobilizado ao alcance dos apressadinhos),
Escondê-las nos bolsos do corpo e do espírito?
Preciso reconduzi-las aos ermos temerários:
Pinçar um barbarismo aqui,
Um arcaísmo ali,
Acordá-las da sonolência embaraçosa,
Reavivá-las no fogo de meus diuturnos
Serões?
2 – Claridade Difusa.
Alguém me disse
(não me lembro quem nem quando nem onde):
Evite os poemas de circunstâncias
E de encomendas.
A vida é um poema, um problema.
A sombra esconde a luz no emaranhado
Das chamadas palavras difíceis
As páginas em branco são os dias e os lugares
Nos quais tantas coisas e seres
Aparecem e desaparecem.
Os apelos da morte definitiva nos dias transitórios
Chamam, reclamam, enganam.
3 – Sorrisos Femininos.
As axilas são as extremidades
Do sorriso horizontal
Nas mulheres que amamos.
As virilhas são as extremidades
Do sorriso vertical
Nas mulheres que amamos.
4 – Hermetismo.
A orquídea é andrógina, apesar de feminina.
A promessa do amor impossível é uma sombra na parede?
Você pode abraçar o luar, mas não a felicidade:
Assim Sansão, enganado, diz à Dalila, enganadora.
É preciso ter chaves especiais para abrir
As portas do céu que certa moça tem...
Quem teve a bondade de dizer-me assim,
Numa agora esquecida leitura?
O orgasmo é melhor quando as centelhas
Do fervor regressam à alma apaixonada
E brilham,
Brilham sem parar.
O sabiá canta na moita de araçás,
Subitamente eriçada,
No doce sitio do amor acordado
Nas derrapagens do sigilo atordoado.
E agora
Como processar as idéias embutidas nos neologismos
Do hermetismo,
Com tantos silogismos dispersos no ar da tarde
De minha tórrida divagação?
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