domingo, fevereiro 12, 2012

NOVOS POEMAS

1 – As Palavras. 
Preciso devolver ao jargão corriqueiro As palavras obsoletas? Transferi-las da inocuidade do monólogo Para a loquacidade do diálogo? Preciso surrupiá-las do dicionário (limbo imobilizado ao alcance dos apressadinhos), 
Escondê-las nos bolsos do corpo e do espírito? Preciso reconduzi-las aos ermos temerários: Pinçar um barbarismo aqui, Um arcaísmo ali, Acordá-las da sonolência embaraçosa, Reavivá-las no fogo de meus diuturnos Serões? 

2 – Claridade Difusa. 
Alguém me disse (não me lembro quem nem quando nem onde): Evite os poemas de circunstâncias E de encomendas. A vida é um poema, um problema. A sombra esconde a luz no emaranhado Das chamadas palavras difíceis As páginas em branco são os dias e os lugares Nos quais tantas coisas e seres Aparecem e desaparecem. Os apelos da morte definitiva nos dias transitórios Chamam, reclamam, enganam. 

3 – Sorrisos Femininos. As axilas são as extremidades Do sorriso horizontal Nas mulheres que amamos. As virilhas são as extremidades Do sorriso vertical Nas mulheres que amamos. 

4 – Hermetismo. A orquídea é andrógina, apesar de feminina. A promessa do amor impossível é uma sombra na parede? Você pode abraçar o luar, mas não a felicidade: Assim Sansão, enganado, diz à Dalila, enganadora. É preciso ter chaves especiais para abrir As portas do céu que certa moça tem... Quem teve a bondade de dizer-me assim, Numa agora esquecida leitura? O orgasmo é melhor quando as centelhas Do fervor regressam à alma apaixonada E brilham, Brilham sem parar. O sabiá canta na moita de araçás, Subitamente eriçada, No doce sitio do amor acordado Nas derrapagens do sigilo atordoado. E agora Como processar as idéias embutidas nos neologismos Do hermetismo, Com tantos silogismos dispersos no ar da tarde De minha tórrida divagação?