quinta-feira, dezembro 01, 2011

GOTAS DE CHUVA E DE SOL

1 – Do livro “Senhor PROUST”, de Celeste Albaret (enfermeira e amiga de Marcel Proust), trad. de Cordélia Magalhães, Edit. Novo Século, SP, 2008: “A doença não lhe causava medo. A única queixa que ele tinha era a de morrer sem terminar sua obra”, pag. 93. (...) “Acreditar que seus livros são a narrativa real de sua vida é fazer pouco caso de sua imaginação”, pag. 114.” Ele sempre foi a abelha que pousa, sem se enganar, sobre as flores boas”, pag. 179. “Quanto aos paraísos perdidos, Céleste, não existe quem os reencontre”, pag. 181. “Quando revejo todo o deserto em torno dele, penso: quê solidão! E que força de alma para tê-la desejado, e tendo desejado, para tê-la suportado!”,pág. 207. “A inteligência nela” (ele dizia da Princesa Bibesco) “é outra faceirice... Ela tem a poesia dos gestos e das palavras”,, pag. 268. “Eu” (a autora diz) “não tinha nenhum problema para sorrir, como a Gioconda: mas era feliz como uma flor azul dos prados”, pág. 321. Uma das cláusulas do Prêmio Goncourt, que ele recebeu, consta: “Ele é um escritor adiante de sua época, em mais de cem anos”, pag. 355. “Quando sabemos dizer, podemos dizer tudo” – ele diz na pag.367. “As lembranças jamais foram coisas mortas para ele. Ao contrário, elas sempre foram sua exaltação, para não dizer sua alegria”, pag. 377. “Senhor, muitas vezes minha mãe dizia, sobre o tempo: “quem o fez não o vendeu”. Ele me fez repetir. E disse: “Como é bonito, Céleste! Eu colocarei no meu livro”, E, com efeito, a frase está lá”, pag. 390. “Odilon” (marido de Céleste) e eu tivemos uma filha, Odile, que é o único ser do mundo por quem eu iria buscar a lua, como teria feito para o Sr. Proust, se ele tivesse me pedido”, pag. 424. 2 – Do livro “Como deixei de ser DEUS”,de Pedro Maciel, Edit. Topbooks, RJ, 2009: “Loucos nunca puderam circular livremente pelo centro ou arredores da minha cidade. Muitos morreram fingindo lucidez”, pag. 75. “O sol tem uma sombra tão iluminada que se vê à luz da noite”, pag. 135. “Há escritos tão sonoros que podem ser lidos de olhos fechados. O verdadeiro leitor tem de ser o autor amplificado”, pag. 117. “Quem colhe uma flor perturba uma estrela (...); a delicadeza do espírito de porco”, pag. 95. “Deus, para reinar não precisa existir”, página 23. 3 – De minha livre insinuação: se procuro ver e sentir materialmente a poesia como pensamento e sentimento da realidade, o que encontro é a ocorrência dela na vida e no mundo representando a Piedade e não a Violência nas ações humanas no tempo e no espaço. 4 – “Adoro carros, mas o carro é anti-urbano. Niemeiyer, discípulo de Le Corbusier, percebeu que o melhor a fazer era destruir a cidade tradicional e construir uma cidade inteiramente a serviço do automóvel. Isso não funciona”. São palavras de Paul Goldberg, professor crítico de arquitetura, em entrevista na VEJA de 23\11\2011. 5 – Contra o surrealismo do trânsito nas grandes cidades (e Divinópolis é uma delas), causando a violenta balbúrdia e a desastrada violência com milhares de mortos e feridos, acertada seria a contrapartida, ou seja, a adoção de outro tipo de surrealismo: a proibição da fabricação dos chamados carros-de-passeio em todo o mundo a partir de qualquer dia da próxima semana, do próximo mês ou do próximo ano, facultando apenas a fabricação de táxis específicos (automóveis de estrutura visual identificável, inconfundível). Assim, em vez de gastar dinheiro com o engarrafamento das artérias as gastariam menos com o aluguel do taxi para tempo e percurso determinados. Aí sim, a vida real seria possível – e o surrealismo ficaria apenas na estrutura visual dos carros de aluguel – e não no esbanjamento monetário dos ricaços e seus pobre êmulos. 6 – As Palavras Cruciais. É preciso devolver ao jargão corriqueiro as palavras obsoletas, Descolá-las do holocausto ou do sepulcro, Transferi-las da inocuidade do monólogo para a loquacidade do diálogo. É preciso surrupiá-las do dicionário (um limbo imobilizado - só ao alcance dos apressadinhos), Conduzi-las nos bolsos do corpo e do espírito: Pinçar um barbarismo aqui, um arcaismo ali e depois Escrevê-las nos troncos das magnólias e dos esporões, Nas areias dos caminhos e nos pórticos das instituições: Tudo isso (quem sabe?) para despertá-las, avivá-las, Necessariamente.