SUSSURROS DO INCONSCIENTE
Os paraísos perdidos: consegui deter ao menos um deles algum dia? Penso que sim: - no quintal de Marilândia, durante muito tempo... - nas terras da Fontinha, durante pouco tempo.... Nos bastidores da mente muitos atores de língua presa tentam expressar suas crises existenciais. Muitos insetos aéreos fazem coro ao turbilhão da atmosfera, em redemoinho. Uma pétala de repente vira uma pedra ou vice-versa? Um verso resmunga, inaudível, do estribilho das engrenagens intransigentes. De repente o silêncio grita mais alto – e ninguém responde. A multiplicação dos ecos enche os abismos da noite de vorazes carrapatinhos. Você está ficando doido? Alguém pergunta e alguém responde, perguntando: doido ou doído? E assim um parágrafo de comédia engole outro, anunciando a introdução da tragédia no palco desolado. Cadê a platéia? O ator pergunta ao silêncio. De repente o índio solitário seguia aos trancos e barrancos pelos campos e matas de sua terra natal, agora tão desnaturalizada. O capim revolvido, as árvores chorando copiosamente. O gato do mato assobiava uma canção desventurada, a cobra coral subia nas grimpas do coqueiro e de lá sumia de vista. De repente as pessoas desconhecidas surgiam e desapareciam nas moitas de japecangas dos aclives e desníveis mineireiros. As moitas de capim-gordura e de gravatás querem interpelar-me neste ponto do itinerário? Perguntam-me por que ando tão impávido e solerte nessas paragens? Onde foi que amarrei minha égua, por que errei tanto nesses caminhos enviesados? O certo é que caí nesta perdição ao mesmo tempo ínfima e infinita. Está ficando doido, a maitaca perguntava do galho de uma goiabeira frutificada. A noite tem mil caminhos. Tenho que encontrar o meu, esteja onde estiver. Quem sabe ele começa naquele bambual gigante? O dia seguinte trazia um político (um dos anões do orçamento) dizendo: “De quem é o mundo? Se não é meu nem seu, então foda-se o Raimundo!” O pardal de galho em galho a perguntar se o comunista bom nasceu morto... A roubalheira deslavada avança nos quadrantes da nação. A fonte de renda dos corruptos entram e saem dos vasos de infames privadas. Ninguém tem vergonha na cara nesse desmiolado congresso governista? “Se você estivesse lá faria o mesmo” – o debochado diz ao pasmado. “Eu? Você me conhece. Sou incapaz de embolsar um tostão sequer do alheio...”. Ah, mas é aí que te pego, responde o acusador, acrescentando: “assim como é nunca chegará lá, ora pois!” Os cavalos da insônia galopam no deserto empoeirado. Seus cascos retinem no chão pedregoso, seus focinhos famigerados suplicam clemência ao céu impiedoso. São animais sobre-humanos no afã de captar alguma transparência miraculosa. O falso poeta que se vale da falsa poesia para faturar sexualmente as mulheres ociosas ignora que do alto os urubus estão defecando em suas cabeças desmioladas. Entrementes os jornais não-governistas afirmam que só no período de 2003 a 2010 a corrupção política roubou dos cofres públicos 67 bilhões de reais... Todo o mal do país vem de cima para baixo – e o pessoal de cima só sabe conjugar a frase: “Mateus, primeiro os teus!” Até parece brincadeira, não? A fina película de vida que cobre a terra Está se afinando cada vez mais? Os lugares da infância não cansam de chamar: Sentem saudades da antiga salubridade? O sucesso, ah que ilusão! Se um dia vier (sei que não virá), não será bem recebido. Nas dobras do pensamento incansável surgem as cálidas palavras: “Quem tem amor não dorme\ nem de noite nem de dia.\ fica virando na cama\ igual peixe na água fria”.
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