MEMORIAL DE DIVINÓPOLIS
Publicado em 1992 em Divinópolis, MG. Fragmento.
Página 68: Misticismo e Pragmatismo:
A cidade de Divinópolis difere da maioria das cidades mineiras por seu incessante dinamismo que promove um quadro de constantes mutações na fisionomia urbana. É um processo que muitas vezes impede a cristalização das conquistas que costumam desaparecer antes de serem contextualizadas no quadro geral das tradições. Uma cidade em crescimento precisa oferecer aos adventícios uma compensação espiritual para impedir o desenraizamento do clima de fervor místico de suas origens nas povoações rurais e pequenas cidades estagnadas, onde a religiosidade ainda é mantida na fé viva da sacralidade existencial. Se a estrutura urbana é desprovida desse clima, o poder público e o clero devem esforçar-se no sentido de estender às ruas e praças os halos da sacralidade até então restritos aos recintos dos templos.
A luta contra a natureza prepondera nos primórdios da civilização brasileira; depois vem a usurpação, a acomodação e finalmente a superação da natureza. São cinco séculos de
porfia entre o misticismo do povo e o pragmatismo das elites. A pergunta vem pronta: a vitória do progresso significa a vitória do pragmatismo contra o misticismo? Sérgio Buarque de Holanda é de opinião que o catolicismo brasileiro “apelava para os sentimentos e quase nunca para a razão e a vontade” e que essa posição permitia aos positivistas a ereção da República e aos maçons a obra da Independência. Aos maçons o nosso primeiro imperador se entregou com tanta publicidade que “o fato alarmou o príncipe de Metternich pelos perigosos exemplos” de tal atitude.
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Quer dizer então que já se manifestava em nossa cidade uma acirrada oposição ao clero católico? Isso veio acontecer algum tempo depois. Sabemos que o pragmatismo é supra-ideológico,é o monte de julgamentos morais e de expedientes utilitários e imediatistas. O progresso é fenômeno mais norte-americano do que europeu, africano ou asiático. William James, o filósofo do pragmatismo, não parece ser irmão de Henry James, o romancista que emigrou e assumiu nova cidadania na Inglaterra. O pragmatismo é onde, como diz Augustina Bessa Luís, “o homem perde a razão de espírito ao honrar a inteligência especulativa e a inteligência carniceira”. O nosso desenvolvimento urbano foi promovido e acompanhado de perto por essa associação de pessoas portadoras de um interesse comum: a ascendência pessoal de cada um dos membros dentro do progresso econômico da sociedade. Para os novos bandeirantes Divinópolis era a terra das oportunidades.
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Para os ideólogos pragmáticos a única virtude da religião é a sua capacidade de mitigar os temores, ansiedades e frustrações das pessoas,possibilitando a manutenção de crenças e costumes favoráveis à estabilidade social. Para o Padre Vicente Soares, vigário de nossa paróquia nos anos 10, “o gênero humano só conserva sua nativa pureza no seio da luz religiosa”. Sentindo a gravidade do contraste da vida social (a violência moral da classe dirigente e a piedade viva do povo), ele tomou o partido da nativa pureza, sem prever as dificuldades que o aguardavam, a ele e aos seus companheiros, nos anos seguintes.
1 Comments:
Como não consegui enviar pelo email cadastrado no blog. Escrevo aqui na experiência que haja uma resposta. Por favor responda no email: jrezcosta@yahoo.com.br
Prezado Lázaro Barreto,
minhas cordiais saudações. Meu contato é para esclarecer algo divulgado no sítio http://divinopolis100anos.com.br/fotos/ que atribui a si a informação que Antonio da Costa Pereira, fundador do Grand Hotel em 1836, seria filho de João da Costa Pereira e Antonia Pereira de Alvarenga. Pois bem, estou estudando tal família e o dito filho do casal supra teria falecido em alguma data no ano de 1799, conforme transcrição do seu inventário, que segue abaixo:
ANTONIO DA COSTA PEREIRA, alferes
Inventário
Museu Regional de São João Del Rei – caixa 294
Inventariado: Alferes Antonio da Costa Pereira
Inventariante: Ana Joaquina de Resende - viúva
Data do Inventario – 1799
Local – Fazenda Invejosa – Passatempo – Termo da Vila de São Jose
Transcrito por: Moacyr Villela
Data da Transcrição: 2004
Filho legitimo de João da Costa Pereira e de Antonia Pereira de Alvarenga, já falecidos, nascido na Freguesia de São Jose, deixa os filhos seguintes:
1- Antonio da Costa Pereira , 26 anos;
2- Joana Cândida de Resende, 22 anos. (casou em 1801 com Lourenço Pereira da Costa);
3- Maria, 20 anos;
4- João da Costa Pereira, 18 anos (casou em 1801 com Teresa Maria Pinta – pg 36)
Filha natural:
5- Narcisa, casada com Francisco Monteiro Dutra
BENS
-4 vacas de leite – 12$000 reis
-2 cavalos – 25$000 reis;
-30 Bois de Carro – 165$000 reis;
-7 arrobas de açúcar – 10$500
-25 alqueires de feijão – 12$375 reis;
-25 carros de milho – 45$000;
-Um canavial – 250$000
- 19 escravos
- Fazenda Invejosa em Passatempo – 2:500$000
MONTE MOR – 5:885$483
Há um forte indício que os filhos do casa tenha migrado para o Julgado de São Domingos do Araxá, em data posterior a 1803 e inferior a 1805, conforme documentos da Lista Nominativa do censo de 1802 que anexo. Peço encarecidamente que o Senhor decline as fontes que usou em seu estudo para que eu possa confrontar com as minhas. Estou concluindo um estudo sobre seu possível filho homônimo que fora Juiz das Sesmarias no Julgado de Araxá e homem de índole violenta, muito influente e poderoso na região, tendo sido por ato direto de sua influência que os Julgados de Araxá e do Desemboque voltaram a pertencer a Capitania de Minas Gerais. Mas como os nomes são mui comuns nos períodos estudados é muito fácil que haja confusão. Por favor, se puder colaborar já de antemão apresento minha gratidão.
José de Rezende Costa Neto
(62)8240-1967
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