O VERDE MAIS ANTIGO
Fragmento do roteiro de um curta-metragem realizado em 2001, direção de Osvaldo André de Melo, fotografia de José de Almeida e locação de Paulo Henrique Belém Barreto.
Como pode o rio viver sem a mata ciliar?
O pássaro sem galho para pousar e cantar?
A vida sem a água para viver?
Ela é quase todo o nosso corpo
Quase todo o nosso planeta.
Eis a água e o verde, antigos:
as duas gotas de clorofila de nosso olhar
as virgens fontes da alma
das verdes fontes da alma.
Ela desce, os peixes querem subir.
O sono sobe, os olhos querem dormir:
“quem tem amor não dorme
nem de noite nem de dia
fica rolando na cama
igual peixe na água fria” (*).
Ouça bem as cachoeiras do coração:
são as mesmas do rio de nossa terra?
Veja o jogo dos transformadores, os geradores de luz
os canais de fuga, os vertedouros, as comportas:
são dons e apetrechos do coração?
Dois terços do mundo, dois terços da pessoa
são água e mais água .
Sinta a energia do corpo e do rio:
é a mesma?
A água está nua onde estiver:
brilha na fluência dos borbotões e ainda por cima
espelha a árvore marginal que agora tomba
entre tantas outras mutilações brasileiras.
Ah suspirosa água que refletia meu rosto:
agora longe de mim e do rio
ela canta em algum lugar,
onde uma fonte ainda transborda.
(*) Trova do cancioneiro popular.
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