quinta-feira, março 30, 2006

O VERDE MAIS ANTIGO

Fragmento do roteiro de um curta-metragem realizado em 2001, direção de Osvaldo André de Melo, fotografia de José de Almeida e locação de Paulo Henrique Belém Barreto. 

Como pode o rio viver sem a mata ciliar? O pássaro sem galho para pousar e cantar? A vida sem a água para viver? Ela é quase todo o nosso corpo Quase todo o nosso planeta. Eis a água e o verde, antigos: as duas gotas de clorofila de nosso olhar as virgens fontes da alma das verdes fontes da alma. Ela desce, os peixes querem subir. O sono sobe, os olhos querem dormir: “quem tem amor não dorme nem de noite nem de dia fica rolando na cama igual peixe na água fria” (*). Ouça bem as cachoeiras do coração: são as mesmas do rio de nossa terra? Veja o jogo dos transformadores, os geradores de luz os canais de fuga, os vertedouros, as comportas: são dons e apetrechos do coração? Dois terços do mundo, dois terços da pessoa são água e mais água . Sinta a energia do corpo e do rio: é a mesma? A água está nua onde estiver: brilha na fluência dos borbotões e ainda por cima espelha a árvore marginal que agora tomba entre tantas outras mutilações brasileiras. Ah suspirosa água que refletia meu rosto: agora longe de mim e do rio ela canta em algum lugar, onde uma fonte ainda transborda. 

(*) Trova do cancioneiro popular.