segunda-feira, abril 10, 2006

DUAS, TRÊS EVIDÊNCIAS

O Livro Agradeço à escritora Dulce Batista, de Brasilia, pela remessa de seu livro “Sob os Céus do Planalto”, no qual imprime sua intenção de “compartilhar com o leitor a fração de fantasia que sempre pode caber nas diferentes facetas da realidade”. Expressão feliz (dela) da intenção de todo ficcionista que se contrabalanceia nos dois planos (sonho e realidade) essenciais da existência. Quando em um dos contos a personagem “presenteia-se com um pequeno interregno” ao passar na sorveteria para, afinal de contas, se adentrar naquela “espécie de compensação solitária”, ah, aí sim, ela está apta para mergulhar e voar nas claridades e névoas e trevas da fusão fantasia-realismo, fusão que passa a ser a ficção com a qual se pode desvendar um mundo mais flexível, pronto para ser oferecido, gloriosamente, aos leitores. Adentrar ou não nessa perspectiva, conseguir ou não essa fusão, é optar ou não pela crônica dos costumes ou pelo conto das vivências, passando ai da realidade poupada para a ficção realizada. Tocata e Fuga, como ela diria em outro conto. A partir de uma fresta miraculosa é que a imagem (talvez) mais importante da vida e do mundo se apresenta. É só abrir e entrar, como aqui está a dizer meu computador O Filme. O amigo, ator e cinéfilo Alonso Mendes, teve a bondade de presentear-me com a fita do filme “Quatro Irmâs”, de Mervin LeRoy. O filme é de l949 (quando seu nome era “Quatro Destinos”) e eu o vi na adolescência em Belo Horizonte, e lembro até hoje o quanto emocionou-me na época e ainda quando ao citá-lo no primeiro volume de minha tetralogia inédita APENAS UM CORAÇÃO SOLITÁRIO, onde evoquei a chuva que no final “ensopava a rua e as pessoas como as lágrimas que então ensopavam meu rosto e meu coração”. Revendo o filme agora, depois do belo e imerecido presente do Alonso, entendi finalmente porque o filme comoveu-me tanto naquela época e ainda agora ao revê-lo. È que instintiva e inadvertidamente eu associava seu entrecho ao entrecho de minha verídica experiência: lá em casa éramos também quatro (três meninas e eu), que também tinhamos perdido o pai e a herança material que ele nos deixara – e entre nós havia uma menina que prezava a vocação musical e que morreu prematuramente como a Beth interpretada por Margareth O`Brien; outra irmâ que foi viver em casa de parente rico (igual a Meg, de Janet Leigh); e outra que se casou e mudou (a Amy, de Elizabeth Taylor);e em quarto lugar a personagem interpretada por June Allison, travestida do papel feminino em meus sentimentos, a pessoa que sempre fui: um tanto rebelde e idealista, teimosamente agrilhoado à vocação literária (neste particular igualzinho a Jo). O fervor no coração que sentia e sinto ao ver e rever o filme e visualizar duas familias igualmente inocentes debatendo-se num mundo culpado. Creio ser assim que muitas vezes descobrimos a causa do que não conseguimos recalcar senão quando a revelamos e analisamos, o que na melhor das hipóteses confere com uma das boas definições da poesia: a emoção recriada na tranquilidade. Muito obrigado, Alonso. A CRISE A nova crise política estampa na fisionomia da nacionalidade a estupefação mais dolorosa da desilusão e do desânimo, com a certeza de que no Brasil o poder público não pode (ou sela. é um poder que não pode),como enfaticamente o poeta Affonso Romano de Santana afirmou outro dia na palestra que proferiu em Divinópolis. Desde a colonização, passando pelo império, república, ditaduras, pretensas democracias, até os dias de hoje, quando a esperança de uma renovação resultou na mesmice do desgoverno de sempre. Muita gente previa esse fracasso, muita gente esperava a nova era e nunca a nova crise. Sei não, mas a fome de ir à panela foi demais, a sede de ir ao pote foi demais – e tanto o prato como o pote eram de menos. A esquerda (?) pecou pela sofreguidão e ansiedade, pela pressa desajeitada? Marcelo Leite, na “Folha” do dia cinco deste mês, disse: “a insustentável política econômica fernando-lulista de gerar superávit a qualquer preço para alimentar o serviço da dívida externa e interna”, aí começa o desmando. Tenho certeza que um Município, um Estado, um País deviam ser administrados não como se fossem a casa da mâe-joana (coitadinha), mas como se fosse uma empresa, vamos dizer, uma empresa estatal como tantas que ainda existem no Brasil e que são exemplares em funcionalidade e rentabilidade. Eu mesmo trabalhei numa de economia mista durante trinta anos e sou, pois, testemunha ocular do que afirmo.