UMA, DUAS PARÁFRASES
1 – Dos Provérbios de Salomão (*). Seis são as coisas que o Senhor agradece antes são sete as que comovem sua alma: o tatu que tanto gosta do buraco antigo os lotes de chuvas alternando os oásis os cabelos cheios de dúvidas no lirismo do dia o desenho da lesma na areia dos caminhos as cores nos bolsos, que logo viram luzes as bolhas dos mistérios que chovem nas pedras a alma que é corpo na pessoa e no pássaro. Seis são as coisas que ao Senhor aborrece antes são sete as que sua alma abomina: a pobreza material, arcaica agora e sempre os pássaros sem asas que fincam as garras o governo nacional que nunca teve juízo os pés velozes que correm na direção do mal a violência das ruas que entra nas casas os deveres sem direitos dos excluídos sociais o caminho que volta, como o chicote do ímpio.
(*) Com base no Capítulo 6, versículo 16 a 19, do Livro dos Provérbios de Salomão, do Antigo Testamento.
2 – Os Dois Amores de Jill Hoffman (*).
É no sonho que ouço o chamado
(o grito simbólico do meu nome).
Num instante pulo da cama em silêncio,
para não acordar o marido que ressona.
Encontro o chamador no quarto contíguo.
E agarrados formamos outro casal
na escassa luz da madrugada.
Sua boca voraz me esvazia e me enche.
Como é bom ficarmos assim na cama,
o longo tempo a brilhar nos espaços.
As gotas de leite escorrem no seu rosto,
o meu corpo flui e boceja na entrega.
Novamente a dormir no paraíso
(na área vívida das pétalas momentâneas),
ele já dispensa minha companhia.
Então levanto-me diante da outra porta,
retorno ao meu ninho anterior
para reaquecer-me no corpo
do meu outro homem.
(*) Paráfrase de um lembrado poema de Jill Hoffman, poeta norte-americana, lido alhures.
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