BELO HORIZONTE! (*)
Onde tudo se move, o que pára, atropela! a boniteza chama e espera, a feiúra tapa os ouvidos e retrocede... O tempo passa mas não morre, passa na curva dos perigos e delícias: Belo Horizonte! se te vejo do alto da Lagoinha ou da Renascença envolvida nas verdes colinas azuis assim antiga e remoçada, o curral sobrehumano de ilíadas e odisséias a merecer os emblemas carijós e cataguases, ungida de complascências e alvíssaras (o sol quente do desejo a lua verde da ternura)... posso dizer que quem morreu por ti nas guerras que teriam rebentado em tuas cercanias, legou-te a nós, ainda com o cheiro da noite vegetal: ó ressonância de Lisboa de Roma de Londres! os climas familiares em cenários desconhecidos: mesmo a crispação quando envermelha, espalha os matizes nos residuais sombrios..., e quando o vento da Serra chega à Cachoerinha, és a roça de camândulas, a moita de uvaias...: assim nenhum governo mundano pode destruir-te, pois se o amor vem na treva da beleza, se a lua pode ser a botija de mel pendente dos ramos, como nas pequenas cidades do interior (ó ingênuas expressões de silêncios nos recessos), terás os semitons dos falares de nosso afeto nos contornos dos currais de pedras preciosas.
(*) Fragmento do romance inédito (em versos) POR QUE CHORAS, SAXOFONE?, ambientado na capital mineira dos anos 1949-1951.
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