A ARTE DE PERDER (*)
Perder é uma arte que temos de aprender. O que se há de fazer? Já nascemos com a índole da perda. Perde-se rios de coisas, todo dia. As palavras que não dissemos na hora certa, o beijo que deixamos para depois. Aceitamos de bom grado o risco de perder a chave e a hora . – Muito mais que isto é a juventude que já se foi. As coisas se perdem nas incertezas: o olhar de quem vai na contramão, o lugar onde vamos passara as férias. Uma vez perdi o binóculo da infância, depois a casa e o quintal da avó (o misterioso porão, assombrosa mangueira). Perdi dois seios bonitos na varanda, depois a sequência do flerte arraigado do amor que era mais que amor. E a você, quantas vezes perdi, sem jamais ganhar? Quantas vezes perdi!
(*) Paráfrase do poema “Uma Arte”, de Elizabeth Bishop, Tradução de Paulo Henriques Brito, Companhia das Letras, SP, l999.
2 Comments:
Lázaro ... passei por aqui.... você está de parabéns pelas escolhas feitas em seu blog.... Salvei sua página e sempre passarei por aqui para conhecer suas novidades... E ... que maravilha de poema..." A Arte de Perder ".... realmente é uma arte! um abraço Rita Michelini
Com o seu Arte de Perder, caro amigo Dom Lázaro Barreto, a literatura brasileira só teve a ganhar... e muito.
Parabéns!
Um abraço,Leonor Vieira-Motta
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