A PIOR DAS PERDAS
Nos inferninhos dos sábados à noite a zoeira metálica oprimia os tímpanos as cenas escabrosas feriam os olhos Assim a moçada etílica bagunçava o coreto do quarteirão da rua onde moro Sentia-me agredido dentro de casa: um trapo no fundo de um poço? Sentia-me assim crivado de pedradas no fundo de um poço, distante da superfície mais vívida, a perder minha própria humanidade? Abri a janela, ingenuamente, para ver se impunha algum respeito Os rapazes e as moças, airados e airadas trocavam suas carícias e recíprocos desaforos, às escâncaras desabridas A zoeira metálica oprimia os tímpanos as cenas escabrosas feriam os olhos (o que fizeram do amor, meu Deus, pensei, provocado, debochado) Aí caí na besteira de pedir para abaixarem o som foi aí que de repente um deles, de gola rolê postou-se defronte à janela onde eu estava desabotoou a barguilha tirou o pinto e mijou acintosamente torrencialmente em cima do passeio de minha casa, pondo à prova meu sistema nervoso minha dignidade, minha ombridade minha própria humanidade (ou a humanidade não é mais a mesma?).
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