quinta-feira, junho 29, 2006

À MEMÓRIA DE SEBASTIÃO MILAGRE

A beleza é o prazer dos fazeres e dos feitios é a sensação das idéias e dos ardores A poesia é ver de perto o que está longe o aqui e o ali nos tempos e nos lugares Alguém atônito apalpa os negrumes a solidão é a cidade dos amigos É assim que de um momento para outro o maravilhoso sobe na goiabeira os tigres descolam-se dos quadros na parede dando lugar, ali, à revoada dos pássaros Quantos poetas ns palavras de Sebastião Milagre vão às esquinas da Coronel João Notini e da Paraná? Quantos poemas na sede e na água conversam com as pessoas que vieram da roça? Às vezes entram no cemitério da Minas Gerais depois cantam nas vozes mais distantes depois voltam para as casas de muitas gerações e são de novo imbuídos de luz e energia... Quantos poetas na sua poesia! Quantos poemas na sede e na água! As doçuras outrora assíduas repontam dos medos e sombras, como diria Salvatore Quasímodo, no relance de suave mulher envolta em flores fugidias. Agora a caminhar para o cemitério que é o nosso desterro, o nosso destino ele entra na poesia que o ampara na poesia que lembra os quadros de Wu Tao-Tzu nos quais os cavalos galopam para os horizontes as folhas movem-se face à nossa respiração o dragão voa para o céu, que vem a seu encontro: assim ele caminha para dentro do poema que acabou de escrever como o pintor que entra para dentro do quadro que acabou de pintar: assim tanto um como o outro jamais serão vistos nos lugares que tanto vivificaram.