terça-feira, julho 11, 2006

NUM FILME DE ALBERTO CAVALCANTI

Sopros de invisíveis violas e flautas
assinalam as horas da tarde
nas diáfanas paredes do céu aberto.
No armário do fantasma da solidão noturna
vi mais do que podia suportar.
Os olhos, dois úberes, dois pomos –
e quem assim invisível em toda parte
vem urdir momentos tão extáticos?
Logo adiante a dispersão aglutinava
logo atrás a concorrência discorria.
Do armário fechado por dentro
saiu a mulher delgada,
trajando a imperfeição das peles,
a beleza dos lábios momentaneamente abertos.
O rosto dela se repetia nas poças da chuva
na rua enviesada, onde depois
a emoção era a fome que voltava
era a vida que voltava,
que voltava a morrer.


DEVANEIO


As árvores passam voando na janela do ônibus
A moça ideal dorme na poltrona ao lado?
O sono é aura
e nele a ninfa Eco repete os cantos lá do vale
e o jovem Narciso repete as imagens no poço
um e outro são as duas solidões do amor.

Dormindo ela se inclina para defender-se
de outros lumes inquietantes:
seus braços encostam nas nuvens?
a brasa solar refresca-lhe as partes íntimas?
o úmido batom desmaia nos lábios beijados?
a luz que circunda
o ventre aninhador
os cabelos acalmam
o que se apóia mais voa
Que mal faz se conversar pensativamente?
Que mal faço se a cantar pensativamente?