terça-feira, agosto 15, 2006

A CANÇÃO DO EXÍLIO E DA VIUVEZ

Aos filhos Ana Paula e Paulo Henrique. 

Um sanhaço migrado de outras longitudes mesmo assim completo em sua perfeição plumável canta impenitente altaneiro as dores e meiguices de seu exílio e viuvez. Vara a madrugada da Avenida Jamaris a lamentar em bemóis e sustenidos a saudade dos dias e noites idos e vividos em outras eras e plagas bem mais folhosas e ariscas a lamentar a perdição em que se encontra assim sozinho e deus na escuridão dos arcos voltaicos assim cercado de espigões recheados de sonos e sonhos, de heresias e erosias, entremeados de labirintos e currais na parte baixa, de estrelas e janelas e aragens na parte alta, a lamentar a solidão incompreendida de sua peregrina, precoce viuvez. E mesmo assim exilado na pétrea carpideira ele canta a perda dos bens naturais (de toda a humanidade). Ele nem sabe mais o rumo das paineiras do Ibirapuera nem das codornas e nhambus das sumidas palhadas de outros sertões. Abismado na amplidão da floresta petrificada pousado no mais alto dos edifícios das alamedas (das hoje extintas tribos indígenas e das ninhadas passarinheiras) dos mesmo assim vivos recantos das moemas dos jardins dos morumbis ele canta canta e canta!