A CANÇÃO DO EXÍLIO E DA VIUVEZ
Aos filhos Ana Paula e Paulo Henrique.
Um sanhaço migrado de outras longitudes
mesmo assim completo em sua perfeição plumável
canta impenitente altaneiro as dores e meiguices
de seu exílio e viuvez.
Vara a madrugada da Avenida Jamaris
a lamentar em bemóis e sustenidos a saudade
dos dias e noites idos e vividos
em outras eras e plagas
bem mais folhosas e ariscas
a lamentar a perdição em que se encontra
assim sozinho e deus na escuridão dos arcos voltaicos
assim cercado de espigões recheados de sonos e sonhos,
de heresias e erosias, entremeados de labirintos e currais
na parte baixa,
de estrelas e janelas e aragens na parte alta,
a lamentar a solidão incompreendida
de sua peregrina, precoce viuvez.
E mesmo assim exilado na pétrea carpideira
ele canta a perda dos bens naturais
(de toda a humanidade).
Ele nem sabe mais o rumo das paineiras do Ibirapuera
nem das codornas e nhambus
das sumidas palhadas de outros sertões.
Abismado na amplidão da floresta petrificada
pousado no mais alto dos edifícios das alamedas
(das hoje extintas tribos indígenas e das ninhadas
passarinheiras) dos mesmo assim vivos recantos
das moemas dos jardins dos morumbis
ele canta canta e canta!
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