sexta-feira, agosto 04, 2006

A Licença Poética

A LICENÇA POÉTICA - Lázaro Barreto.


A noite não é o funeral nem o sepulcro do dia
É a parte azulada da vida mais que vermelha.

Longe dali a sanidade açucarada, a face angelical
da vexatória juventude.
Perto dali a boca a falar de amores,
as escamas dos lábios e os interstícios
úmidos e pregueados,
a justaposição molhada e vermelha
os estrépitos cadenciados dos fulgores
a forja das emoções subindo e descendo
sobre o braseiro da mais recente paixão.

Depois de dois dedos de prosa
ah já vinha
o prazer merecido depois de tanta sofrida beleza
ah já chegava
o prazer merecido depois de tanto sofrer a beleza.

Se a palavra estiver do lado que o sol bate,
é mais visível,
se surgir do lado oposto ao da lua cheia,
é mais audível.
O amor não tem nada a ver com as outras pessoas,
só com nós dois no momento dele.
A amplitude escorrega do contexto
A vida social é violenta em seus trâmites,
esparrodada no azedume das amarguras.
Os amantes precisam comer-se um ao outro,
de vez em quando
nas bitacas do sossego.
Não quero falar mais disso, desse instante
em que ela tirou a roupa.
Em que ela tirou a roupa?
Perdão!
Será que foi isso mesmo que ela fez
ou muito mais que o sol e a lua fazem
nas escuridões de seus clarões?