quinta-feira, agosto 03, 2006

A ÁGUA ESTÁ NUA

O rio e o tempo, o mar e a morte os víveres indigestos, os acenos palatáveis o realismo onírico mais rasteiro e no entanto aquoso. Vem um peixe e diz aos meus ouvidos que estou nadando ao contrário, que assim vou de mal a pior. Tento mas não consigo desvencilhar. Continuo a nadar a nadar a nadar no rio no mar no tempo no ar. E toda hora Uma Coisa está passando em todas as direções. Está trespassando todos os meus corações. A água está nua e suja? E o que mais neste mundo não está assim também? A política é a violência A poesia é a piedade - é o que mais tenho dito. Choro as dores do mundo, mesmo não sendo o responsável por elas. Assim estarei de certa forma ajudando ao meu querido Deus do céu e da terra a suportá-las? Assim vou nadando de braçadas, de estirões até perder o fôlego na margem esbarrancada um pouco antes ou muito depois de ver uma das aves do território a tomar água num dos poços das margens e assim a bicar e a sorver, feliz da vida e do mundo, a olhar o alto do céu na mais sincera gratidão ao Criador (como diria Anair Weirich), na fé lúcida, na inteligente religiosidade que embevece, felicita, esclarece. A água está realmente nua. E o que mais não está?