segunda-feira, abril 09, 2007

PEDIDOS DE PERDÃO

Leitor inveterado desde a mais tenra infância, às vezes chego a pensar que é até normal perpetrar, às vezes instintivamente, algum conceito sacrílego, do qual, de cabeça baixa, me penitencio, pedindo perdão a Deus. Nas Sagradas Escrituras constato muitas vezes o que, como leitor atento, considero um deslize do escritor do texto e não da própria fonte, irrefutavelmente sagrada. Os autores do Velho Testamento escreveram que Deus criou a Natureza em benefício do Homem – e aí eu penso que poderiam ter acrescentado que a recíproca é verdadeira, uma vez que se também a Natureza foi criada por Ele, os dois valores Homem e Natureza se equivalem. Mas da leitura fica o pesar de o leitor não entender que o homem ali mencionado é o homem de todos os tempos, e não apenas do tempo presente que, baseando-se que é o herdeiro de Deus, pode dispor dos bens naturais com tal voracidade que às vezes não deixa nem semente dos outros seres vivos sobre a terra. Discordo também que o ser humano seja o melhor de todo o repertório da Natureza. Não é o mais bonito nem o mais inteligente, não é o mais bondoso nem o mais amável. Se foi criado à semelhança de Deus, não quer dizer que os outros seres também não foram criados à semelhança de Deus, que é o Supremo Criador, Justo e Magnânimo. Penso que todas as pessoas do mundo não podem alimentar a presunção nem a regalia de um privilégio injusto e, portando, não-divino – e que o que deve prevalecer é a comunhão do amor irmanando todas as espécies vivas do planeta. Recebi, há dias, um e-mail da psicóloga Margarida Mendes, de São José do Rio Preto, SP, anexando um texto da escritora Ivana Maria França de Negri, da Sociedade Piracicabana de Proteção dos Animais, belamente formatado por José Carlos Gregório, que, com a devida autorização de ambos, passo às mãos e olhos dos prezados leitores deste jornal e dos missivistas online. Isso devidamente resumido por este escrevinhador. Que é o seguinte: PEDIDOS DE DESCULPAS – Ivana Maria França de Negri (resumo adaptado). Nós, representantes da raça Homo Sapiens, pedimos desculpas às outras criaturas que habitam o planeta. Pela nossa inabilidade em conservar (usufruir sem degradar) os recursos naturais do meio-ambiente, destruindo rapidamente o que a natureza levou milhões de anos para construir. Que elas perdoem a insensibilidade com que abandonamos cadelas e gatas prenhas, filhotes e animais velhos nas ruas e estradas para morrerem mais depressa. Eles sucumbem aos poucos, por doenças, tristeza e abandono – pois vemos todos os dias centenas de corpinhos estirados nas margens das estradas. Pedimos perdão pela inconsciência, quando aprisionamos animais em jaulas e gaiolas, privando-os da liberdade. Perdoem-nos pela nossa voracidade em utilizar seus corpos como alimentos, sujeitando-os a uma vida cheia de privações – tudo apenas para saciar nossa gula. Pedimos desculpas pela falta de ética ao utilizar suas vidas como experimentos laboratoriais, quando existem outras alternativas de pesquisas. Perdoem-nos por utilizar a força física delas em nosso egoístico proveito, quando poderíamos utilizar outro expediente. E muitas vezes apenas para nosso cruel divertimento, como nos circos, rodeios, touradas e outras ações de martírio delas para nosso exclusivo e mórbido sado-masoquismo. Tudo isso sem falar na caça criminosa para a comilança desvairada e a retirada de peles para o comércio ilícito e desumano. Perdoem-nos também pelas queimadas que poluem a atmosfera e ceifam a infinidade de vidas silvestres. Perdoem-nos por nossa crueldade: pela violação dos santuários ecológicos, pelo desmatamento, pela matança, pela captação de bens naturais e pela poluição generalizada. Perdoem-nos pelo derramamento de petróleo e de outros produtos químicos, nos rios e mares, sacrificando tantas vidas aquáticas pela asfixia, pela hemorragia nefasta de tristes espetáculos degradantes. Pedimos desculpas por considerar todas essas aberrações como práticas comuns na frieza de pessoas ditas civilizadas das cidades, que condenam tantas vidas ao sacrifício mais contundente, que clama aos céus. Perdoe-nos por não sabermos compartilhar com os outros seres vivos da alegria criadora da Divindade, por ignorarmos o que seja conviver pacificamente com os outros irmãos, todos filhos de nossa mãe Natureza. Pobres de nós, chamados seres humanos, que ignoramos que a paz pregada por Jesus está em saber viver harmoniosamente com os seres que compartilham esta empreitada de aprendizado sob a terra de todos e não apenas nossa. E que Deus tenha piedade de nós no fatídico dia do ajuste final das contas. (Pela cópia e resumo do texto de Ivana: LB).