PERÍODOS E PARÁGRAFOS
Humorismo em Caixa-alta. Toda vez que leio Millôr Fernandes (e o leio desde os tempos da revista “O Cruzeiro”), lembro-me de uma citação de André Gide, na qual ele afirmava desconfiar de toda bemaventurança que não fosse progressiva. Millôr não é apenas um homem, um humorista, um escritor: é um fenômeno. Sua saúde, seu fôlego, sua verve, seu bom senso de humor não se esgotam nunca, ao contrário, estão cada vez mais à prova de balas, mais fluentes, expansivos, sucessivos e inteligentes. Quase todos os intelectuais que surgiram e brilharam naqueles anos dourados já estão com os faróis baixos e/ou apagados. Mas ele não: o reforço da energia é constante, no fluxo e no refluxo iluminador, tudo nele brilha incansavelmente. Um fenômeno de pessoa, não? Nova Versão de Macunaíma. Como leitor e assinante da revista VEJA (a melhor do Brasil, indiscutivelmente), sugeri (e não fui atendido) uma reportagem evidenciando a semelhança de Macunaíma e Seus Manos (devastadores de corpos e de mentes) com Lula e Seus Companheiros, nos pesadelos da História do País. Seria uma espécie de apresentação analítica de um paralelismo de cunho sociológico, algo que só mesmo a VEJA tem, no Brasil, condições e capacidade para assumir e concretizar. O Baixo-Clero do Congresso. Outra sugestão que apresentei refere-se ao papel degradante, no momento histórico brasileiro, dos parlamentares que não se mancam, do chamado “baixo clero” do Congresso Nacional que, afinal de contas, nunca se desmoralizou tanto como nos últimos anos de nossa derrapagem política. Creio que a reportagem poderia evidenciar o logro eleitoral do povo brasileiro que vota em quem julga merecer sua confiança e que, na realidade, prova à exaustão, o desmerecimento, logo nas primeiras semanas do mandato, como estamos presenciando. Penso que toda essa fajuta e nefasta patota (do baixo clero) não tem nada a ver com o simples conceito do politicamente correto: em vez de legisladores eles são, na realidade, meros lobistas, despachantes, defensores de causas próprias, que a imprensa não cansa de denunciar, infrutiferamente. Vamos Mudar de Assunto? Mas Como? Estou meio azedo hoje? Vamos, pois, intercalar aqui um poemeto? O título é “O Corre-corre das Necessidades”. Ei-lo: No tempo que a cidade sonhava, o homem dormia. Agora, sob a insônia da cidade, revolvendo-se nas ruas abalroadas de estrepolias, o ser humano sofre a insolente psicose do dia passado do dia passando do dia a passar. As ruas apinhadas de gentes, umas com medo, outras fazendo medo. Quando, Drummond, veremos, como você viu, a vida passada a limpo? Caprichos e Fantasias. Enquanto a cidade está em obras (a da Primeiro de Junho, além de indevida e desnecessária, prolonga-se indefinidamente, sacrificando o andamento do cotidiano dos habitantes), a vegetação ciliar da beira do Rio Itapecerica arde em chamas escandalosas. Estamos mesmo na fase apocalíptica da possessão do mundo pelas hostes hediondas da infernália? Os caprichos e fantasias não eram apenas os triviais holocaustos da antiguidade em nome de Baal e de Moloch? Por que teimam em perpetuar-se, impunemente?
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